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Os seus acampamentos eram inventados; Nessa época não haviam referências. O singular, impressionante e confortável INHAMACALA na coutada nº6 era o seu emblema!

BIOGRAFIA DE JOSÉ SIMÕES


Quando falo de Caçadores Guias e de Outfitters venero José Simões, que provavelmente foi o maior e o mais reconhecido internacionalmente, Caçador Guia/Outfitter Português.
Desde o dia que o conseguiu ser, nunca mais fez outra coisa na vida. Tornou-se Outfitter/Guia profissional a tempo inteiro.
Onde estivesse estava certamente a caçar ou a falar em ir caçar, como se não existisse nada de mais importante e … contagiava!
Chegou a organizar mais de meia centena de safaris por época de caça, quer em Moçambique ou no Sudão, quando foi obrigado a internacionalizar-se por altura da Revolução dos Cravos.
Apenas como referência, é importante dizer que hoje as grandes companhias de safaris da Zâmbia, onde caço desde 1987, fazem apenas uma dúzia e meia de safaris - e talvez em todo o Continente – com a sua capacidade não haverá mais do que um par delas.
O maior privilégio que tive na minha vida, como profissional, foi ter sido seu empregado durante os meus primeiros 15 anos de aprendizagem, nos quais pude testemunhar, experimentar e aprender coisas únicas, desse grande mestre dos safaris.
Super Caçador Guia, Relações Públicas e Outfitter, respeitado pela concorrência e imbatível nas negociações com o Governo, durante a decisão de distribuição oficial das áreas de caça.




                                                     Os grandes felinos eram a sua especialidade

Sempre conseguiu para si as melhores áreas de caça, fosse em Moçambique, Angola ou Sudão, os Países que mais moldaram a sua carreira de Outfitter.

ALGUNS DOS SEUS NOTÁVEIS CLIENTES

Amnésio Amaral (filho)

Rothschild com um magnífico Leão

 Os Conde Cinzano

Alfonso Urquijo (1963)

Conde de Carral

Nasceu na cidade Beira em Moçambique, a 26 de Setembro de 1927.
Fez os seus estudos nessa cidade até à admissão aos liceus e prosseguiu-os na África do Sul, provavelmente durante pouco tempo, pois tornara-se órfão do pai aos 13 anos e a mãe era uma simples empregada do Hotel Savoi, com outras duas filhas também para criar.

Há registos de jornais de 1970 (pouco depois de ser despedido da Safrique – a maior companhia de safaris da época, fundada por um grupo de Outfitters em sociedade com o Banco Nacional Ultramarino) onde José Simões declarava; “Comecei a caçar com 11 anos na região do Buzi. Tornei-me depois funcionário dos Caminhos de Ferro” (tornando-se no Chefe de Estação mais jovem dessa época) … “e como profissional caço desde 1956”.

“Vivo ainda para uma série de projetos” (referindo-se à companhia que acabava de criar a “Maningue Lda.”, para a captura de pássaros e peixes exóticos de Moçambique, que exportava para agentes de Zoológicos de todo o mundo).

Quando a caça era um "hobby"

Existindo também registos oficiais em 1959, do início da atividade da sua primeira companhia de caça - a “Simões Safaris”, totalmente direcionada para o Turismo Caça, pode concluir que só caçou como profissional (na venda de carne e marfim) durante três anos.

Equipa da "Simões Safaris"-Baixo/Esq./dir. Gilberto Barros, António Fajardo, Luís Cardoso, Henrique Leitão e Alberto Osório. Em cima/Esq./dir. Gustavo Guex, Janack, Mussa e Simões.

Pode parecer pouco tempo, mas foi o suficiente para, depois de se informar sobre o Turismo Caça que já se praticava em alguns países vizinhos - como o Quénia - meter-se como que numa cruzada, nesse sempre complexo labirinto burocrático que existe para tudo e em especial para o que é novo.

Foi na revista americana de informação cinegética “Guns & Hunting” de Janeiro de 1963 e através do escritor James C. Rikhoff, que essa sua façanha foi tão simples e cruamente anunciada, como se pode ler na cópia do artigo que segue na íntegra:

 

Tal façanha não passou despercebida ao Ex gigante fabricante de armas Winchester, que tinha um pouco antes lançado ao mercado mais um dos seus revolucionários produtos, uma arma de calibre 264 WM, que com uma bala de apenas 6.9 mm de diâmetro, competia em velocidade e energia com todos os calibres trinta dessa época e através do seu vice-presidente, o Sr. Bill Kelty, ofereceram a José Simões uma arma de topo de produção desse calibre, devidamente autenticada pela marca Winchester numa placa de prata que lhe embelezava a coronha, como forma de homenagear, em sua opinião, o homem Turismo Caça Conservação de 1961.
 

Há quem tenha contestado afirmações feitas sobre José Simões, ter sido ou não, oficialmente, o primeiro caçador guia de Moçambique, mas era a ele que o Departamento de Veterinária emitia em cada ano a licença numerada com o nº1.

Pouco depois de ter criado a companhia de caça “Simões Safaris” teve a sorte de ter sido contactado por um cliente caçador (desculpem-me o termo) que viria a ser um dos maiores caçadores do século passado; Elgin Gates, que já nessa altura podia ensinar de tudo a qualquer profissional.
Caçaram juntos três novos recordes do Mundo, muito provavelmente à maneira do Sr. E. Gates, tanta era desde então a admiração que Simões sentia por ele.
Tornaram-se amigos e com um artigo que Gates escrevia sobre o seu safari em Moçambique em companhia de um jovem caçador guia português, traçava Moçambique e esse guia no mapa da Caça
Turística Internacional.

Até 1963, quando o Presidente da República Almirante Américo Tomás lhe confiou uns notáveis convidados seus, os Marqueses de Villaverde (filha e genro do Generalíssimo Francisco Franco – Presidente de Espanha), caçou com toda uma
constelação da elite americana da Caça: aristocratas, industriais, cientistas e ilustres atores de cinema, até ao ponto de o terem nomeado Xerife honorário no Estado do Texas em 1960.

 

Depois do safari com os Marqueses de Villaverde, ainda que não tenham sido os seus primeiros clientes notáveis da “Jet” espanhola, o mercado espanhol talvez mais que os outros, influenciaria todos os acontecimentos da sua por vir vida profissional.
 

Lê-se e ouve-se todo o tipo de explicações, incluindo as económicas, de como acabava uma companhia e formava ou aparecia noutra, por sinal todas gigantes comparando-as às de hoje, e eu digo depois de demorar-me um pouco a consultar a sua evolução, que pouco ou nada podia ter sido feito de melhor maneira.
Este homem traçava a primeira história do Turismo Caça em Moçambique e algumas vezes seria ultrapassado pela sua “Perestroica”.
Tinha clientes, favores e preferências Governamentais, e uma Companhia, tal como se pode apreciar pelas fotos, companhia esta que teve de acabar, para se incorporar, como acontecia com outras, numa nova que seria a maior sociedade de safaris em África - a Safrique, e tudo me indica que foi por este negócio ter-se acidentalmente transformado em algo que interessava à política colonial do Estado… e a Safrique administraria uns 90% do Turismo Cinegético de Moçambique.
Essa mesma notável clientela de aristocratas, industriais, banqueiros, escritores, cientistas e estrelas de cinema dos quatro cantos do Mundo, que propagandearia a favor do bem-estar de Moçambique, também despertava interesses políticos.

Em Novembro de 1961, o Secretário Provincial engenheiro Rui Ribeiro, acompanhado do Chefe da Repartição Distrital de Veterinária Dr. Rodrigues da Costa, visitavam o acampamento do Inhamacala da Simões Safaris e aproveitando a visita, chegaram a caçar um búfalo.
Era uma visita de estudo a vários aspetos do desenvolvimento da Indústria do Turismo Cinegético que, de ano para ano, ia adquirindo uma importância crescente não só no aspeto económico, como fonte de divisas para a Província, como também como fator importantíssimo de prestígio e propaganda de Moçambique além- fronteiras.

A 16/09/1962 o “Notícias da Beira” informava:
«Um grupo de funcionários superiores do Banco Nacional Ultramarino vem caçar com a “Simões Safaris”». E continuava… «Depois dos grupos de importantes individualidades da Metrópole que têm vindo caçar com J. Simões – o importante banqueiro e advogado Dr. António Júdice Bustorff Silva, os industriais Srs. Manuel Vinhas, Beirão da Veiga, Gomes Pelágio, José Manuel Pereira Martins e Joaquim de Freitas Simões, partiram ontem para as coutadas de “Simões Safaris” em dois aviões da TAM, alguns destacados membros da comitiva do Sr. Dr. Castro Fernandes, administrador do Banco Nacional Ultramarino. Os visitantes eram os Srs. Inspetor Chefe Jorge Grave Leite e esposa, Humberto Júlio Gaspar Franco e esposa, Sílvio Abranches Pinto, Júlio Paulo Vicente, Diamantino Alves Pereira da Silva e José Achando Cabral. Espera-se que o Dr. Castro Fernandes e o Sr. Raposo de Magalhães sigam dentro de dias para as coutadas para um curto safari.»

 

Entretanto, devido à instabilidade política no Kénia, José Simões, que recebia ofertas de cooperação das mais notáveis companhias de safaris daquele País, que foi pioneiro deste tipo de turismo cinegético, solicita o aval da Província numa operação de empréstimo de 3800 contos a contrair no Banco de Fomento Nacional, o qual lhe foi concedido, para lhe facultar os meios necessários ao alargamento e desenvolvimento da sua companhia e respetivas atividades, permitindo-lhe assim contribuir eficazmente para o progresso económico da Província.

Também lhe foi autorizada a exploração das áreas do Niassa, dos postos administrativos de Negomano e Mocimboa do Rovuma, para satisfazer o excesso de clientes destinados a caçar na sua companhia.
 

O “Notícias de Lourenço Marques” (hoje, Maputo) referia-se à concessão deste aval, dizendo que certamente este empréstimo concedido indicava o interesse com que o Governo vinha seguindo as atividades de José Simões, em prol de uma indústria que muito contribui para tornar Moçambique conhecido em todo Mundo, além de beneficiar a Província com a entrada de valiosas divisas estrangeiras.

Estávamos em 1962 e o jornal “Rhodesia Herald”, que também comentou sobre o aval da Província cedido à Simões Safaris, dava grande ênfase ao facto de três dos melhores caçadores guias do Kénia (os Srs. Jack Bousfield, Bill Morkel e Kavin Torrance) empregados da maior companhia de caça do mesmo País (Ker & Downey) terem chegado à Beira para se juntarem ao quadro de caçadores guias da “Simões Safaris” e, acrescentava o artigo desse jornal, que o Governo Português tinha concedido um empréstimo de £ 70 000 à organização de José Simões, para lhe possibilitar uma importante expansão, tornando-o capaz de negociar e acomodar com a crescente demanda que se previa criada pela dispersão das companhias de caça do Kénia, devido às incertezas e instabilidade política do País… e rematando o artigo, o “Rhodesia Herald” declarava que Portugal não só via o assunto como uma nova fonte de enormes rendimentos de divisas, mas também como uma propaganda importante do seu ponto de vista e modos, em África. Hoje, dito isto por outras palavras… demasiadamente politizada toda a questão!
Efetivamente chegavam à Beira os patrões e gerentes da firma “Ker & Downey” (Srs. Jack Block e Peter Whitehead, respetivamente) para estudarem com José Simões as possibilidades e pormenores de uma eventual junção das suas companhias.
A “Simões Safaris” investia em acampamentos móveis (4 unidades), cada um compreendendo 1 camião 4x4 de 5.5 toneladas, 6 tendas de campanha (2 como quartos para clientes, 1 para caçador guia, 1 casa de jantar, 1 sala de banho e uma para a retrete), frigorífico, filtros de água, pratos, talheres, etc. … E começava o show com o maior safari que até aí se tinha alguma vez organizado em Moçambique… Um safari constituído por 62 pessoas, sendo 7 caçadores turistas, 5 caçadores guias (os 3 Quenianos, o Gilberto Barros e Pierre Maia) e 50 carregadores, que utilizariam 4 camiões e 5 Land-Rovers durante os 45 dias da contratação do safari, caçando pelas regiões de Marromeu, Inhamacala, Botão, Catolene e o Norte do Niassa, esta última, concedida à “Simões Safaris”, dentro do plano da expansão reclamado por José Simões, quando do pedido do empréstimo bancário, que lhe foi deferido.
Naturalmente o grupo dos clientes caçadores, formados pelos Srs. e Sras. Brittingham e Warrens que eram sócios de um verdadeiro império industrial que cobria o México e o Estado do Texas, com fábricas de cimentos, cerâmicas e poços de petróleo, além de outras atividades de grande vulto, sendo como é natural, elementos de grande prestígio nos meios financeiros americanos, mostravam-se encantados com o safari e a Província de Moçambique, estando igualmente interessados no investimento de capitais no Território.
Já em 1960, um médico especialista de ossos, americano, Dr. Frederick Graig, que tinha caçado com a “Simões Safaris”, numa carta enviada ao “Notícias da Beira”, desculpava-se do que foi dito nas Nações Unidas pela representação do seu País e contra Portugal, pelo embaixador Sr. Adlai Stevenson e informava o mesmo jornal, que tinha pedido residência em Moçambique, onde gostaria de trabalhar e lutar se preciso, lado a lado connosco… dizia ele: «Os pioneiros ianques jamais se igualarão aos vossos; vós podereis orgulhar-vos do passado enquanto a recordação americana nos desgosta…»
Roger Fawcett, dono do “True Magazine” uma revista com uma tiragem de 3 milhões de cópias, assim como os milhões de livros das edições “Gold Medal” e “Crest”, manifestava-se aos nossos jornais, impressionado no final do seu safari (1961) não só com a qualidade dos troféus obtidos, mas sobretudo com o agradável convívio que estabeleceu com o povo moçambicano, especialmente com a afabilidade, correção e disposição alegre dos nativos.

 

Revisar hoje todos esses artigos de jornais e revistas, meticulosamente guardados pela sua mulher, Ana Maria D. C. Simões, é como ler num mapa as cartas místicas que revelariam o futuro próximo do Turismo Cinegético no Distrito de Manica e Sofala, onde sem dúvida se encontrava a maior biodiversidade e concentração da Fauna de Moçambique… que acabaria, ainda que por métodos airosos, ser nacionalizada, permitam-me a expressão.

Um dia e apenas dois anos depois do aval Provincial lhe ter sido concedido, essa sua primeira companhia, a “Simões Safaris” enfrenta a falência e José Simões vai pedir conselhos ao Presidente do Conselho, Dr. António de Oliveira Salazar que, quando do seu primeiro encontro, lhe permitiu implementar-se oficialmente neste novo estilo de caça, concedia-lhe também e desde então acesso livre ao seu gabinete. Este acesso que lhe concedia, não fora por José Simões se ter debatido duramente numa cadeia de televisão americana, num cara a cara com o primeiro Presidente da Frelimo, o Sr. Eduardo Mondlane, como foi dito por alguém, mas sim porque antes de ter conhecido Salazar, esteve quase um mês sentado na sala de espera, dizendo apenas, quando lhe pediam paciência por o Presidente ser pessoa muito ocupada, que podia esperar o tempo que fosse preciso para o conhecer, pois vivia em Moçambique e o seu desejo era apenas conhecer o Presidente (do Conselho).
 

Quando conseguiu a audiência, como disse àquele todo-poderoso presidente que todos os caçadores profissionais caçavam muito mais do que o estipulado pelas autoridades para poderem sobreviver e não ter ido parar imediatamente à cadeia, só ele nos poderia explicar! Certamente por curiosidade o Presidente Dr. Oliveira Salazar ouvi-o pacientemente, enquanto lhe falou sobre o Turismo-Caça… estrangeiros que pagariam em divisas, muito mais por cada animal do que os residentes ou os atuais profissionais, etc.
O Presidente que sabia ver muito mais longe as enormes potencialidades e conveniências que esta nova profissão acarretava, encarando a explicação não só como uma importante fonte de riqueza mas também como um meio de divulgação e de prestígio do Ultramar Português, deu-lhe luz verde e, de futuro, o acesso livre ao seu gabinete.
Voltando ao segundo encontro com Salazar, nascia a maior companhia de caça de África dos anos 60/70, a “Safrique”.

Como teria falido a “Simões Safaris” que era, sem dúvida, a maior companhia de Moçambique que operava singularmente três coutadas de caça e que coutadas! (nº 6, 7 e 10) … também só José Simões nos poderia contar.
Durante esse tempo vieram caçar com ele como já foi dito, homens da alta finanças, aristocratas, estrelas de Hollywood como Roy Roger e os mais prestigiados caçadores colecionistas internacionais como Elgin Gates, Mac Elroy, Frank Ashley, etc.

Roy Roger, o famoso "cowboy" americano da banda desenhada daquela geração, também quis caçar em Moçambique... e quem não queria um autógrafo dele?

                                               Roy Roger foi recebido calorosamente, muito à maneira daquela Cidade da Beira 

Em 1961, José Simões era homenageado pelo fabricante de armas Winchester, como melhor ativista pró Turismo Caça Conservação do Continente....

O Vice-Presidente da marca Winchester, Sr. Bill Kelty homenageando José Simões

E, enquanto José Simões andava nas suas promoções por Espanha, seria convidado várias vezes a experimentar umas caçadas organizadas pelo próprio Generalíssimo Francisco Franco nas quintas de Biosca e Modella. E lá estava ele, quando numa das caçadas era batido o recorde de Espanha do número de perdizes caçadas em um só dia (4963 perdizes). Nessa altura era também convidado por Eduardo Aznar em Cabañeros, provavelmente a maior quinta de caça de Espanha, ou ainda pelo famoso toureiro dessa altura, Luís Miguel Domingui, na não menos famosa quinta de caça “La Virgen”, tendo assim a oportunidade de conviver com as mais destacadas figuras da aristocracia e da alta finança espanhola.

​Depois do safari dos Marquêses de Villaverde em Moçambique, o Caudillo convidou J. Simões a caçar com ele... estavam presentes as melhores "escopetas" de Espanha.

As Marquêsas de Villaverde e Lamiaco encarregaram-se pessoalmente de lhe oferecer frescura e amabilidade e com certeza também lhe ensinaram a manejar com destreza uma "escopeta" espanhola... nota-se-lhe na cara, que foi quem mais gozou esse dia...

​O "show" não podia ter sido melhor... entre todos batiam o recorde de Espanha do maior número de perdizes caçadas num só dia... Simões naturalmente ficou convencido que as caçadas organizadas pelo Caudillo eram sempre assim... da mesma forma que as Marquêsas talvêz também se tenham convencido, que em África eram sempre como se mostram nas fotos seguintes...

O safari dos Marquêses deixou Espanha enamorada por Moçambique... e desde então, já não estou certo se por lá caçaram mais americanos que espanhois...

 

 

Pelas Américas, era em 1961 homenageado pelo gigante fabricante de armas “Winchester” que lhe obsequiou com uma arma cal. 264 de top de produção, por tudo que eles consideravam que J. Simões tinha feito para bem e pela caça  de safaris em Moçambique e em 1960 o Sr. John Harris, que era primo do ex-presidente Americano, Johnson, nomeia-o na Cidade de Odessa, xerife honorário em Santo António – Texas.

É interminável a lista que eu poderia mencionar de personalidades que lhe queriam bem. Contudo a sua companhia de caça falia.
Quer tenha sido por razões económicas, como dizem que aconteceu com a “Simões Safaris”, quer por razões políticas, de cada vez que perdia uma companhia formava imediatamente outra do nada e isso era o que me fascinava!
Se todos temos um calcanhar de Atiles, talvez o dele tenha sido nunca ter sabido o quanto valia um dólar!

Sr. Bill Kelty, Vice-Presidente da Winchester, apresentando o seu novo produto (cal.264 WM) a josé Simões

As Marquêsas de Lamiaco e Villaverde em dias inolvidaveis em África 

Nota-se que a Marquêsa também foi apresentada, por José Simões, ao novo produto Winchester




Não sei se alguma vez houve um contabilista que tenha conseguido fazer as contas da sua companhia. Em resumo, ele tinha conseguido de 1959 a 1961 revolucionar os critérios de exploração e utilização da Fauna de Moçambique.

Em 1962, recebia o aval da Província no valor de 3 800 contos, como reconhecimento e estímulo por parte do Governo, à seriedade da iniciativa e à maneira excecional como estavam montados os serviços da sua organização… obviamente alargou em tudo a organização da sua companhia e contudo numa entrevista dada ao “Notícias de Lourenço Marques”, em Fevereiro de 1964, dizia:«O impulso que dei e continuarei a dar ao Turismo Cinegético devo-o ao incitamento que nesse sentido tive, desde os primeiros dias, de pessoas amigas como o Dr. Telles Palhinha e Jacinto Tavares; e no campo oficial, de algumas entidades dotadas de larga visão como o Eng. Rui Ribeiro, Dr. Castro Amaro e seus colaboradores.»

 

 

Hoje – continuou ele – a rápida evolução da minha organização de safaris, devo-a ao estímulo que tenho recebido do Governo Central e do de Moçambique que não me têm negado o necessário apoio em virtude, certamente, de reconhecerem a maior seriedade à iniciativa e à maneira excecional como estão montados os serviços da organização. Também só assim se explica, acentuou com uma pontinha de orgulho, que sejam confiados à “Simões Safaris” embora por simples escolha dos interessados, convidados de honra do Presidente da República, como na campanha finda, os Marqueses de Villaverde de Espanha.»

- Está satisfeito com os resultados económicos da sua organização?

Acendendo com o seu “Ronson” o nosso “Havana”, Simões mostra um ar que roça desalento: «Tenho trabalhado muito, mesmo muito! Mas nem sempre com resultados felizes» … e explica: «Estou muito tempo ausente da organização, a trabalhar, lá fora, na necessária propaganda turística em que gasto muito dinheiro. E dos resultados dessa campanha não colho só eu os frutos; colhem também aqueles que de cá não saiem… Mas isto pouco importa, desde que se dignifique acima de tudo o Turismo Cinegético».
-Tem recebido apoio financeiro?
«Tenho, e valioso. E sabe porquê? Precisamente porque tenho contribuído honestamente para a propaganda cinegética de Moçambique».
-É grande a concorrência de turistas?
«O ano passado recebi 25 caçadores e 7 acompanhantes. Foi o pior ano que até hoje registei, precisamente porque estando ausente da Beira não pude preencher o calendário da minha organização. O único prejuízo que tive foi o de ordem económica», observou.
«Por isso autorizei até que outros caçadores guias, concessionários de coutadas e de turismo estranhos à minha organização, levassem os seus clientes às coutadas da “Simões Safaris”, a título inteiramente gratuito. Contrariamente, levei também alguns dos meus clientes a uma outra coutada, mediante prévio acordo económico».

Ao centro, o seu grande amigo Dr. Telles Palhinha. À direita Roy Roger.

O Exmo. Sr. Presidente da República, Almirante Américo Tomás saudando José Simões, durante a sua visita a Moçambique, no aeroporto do Chitengo-Gorongoza.

Em 1964 caçaria com meia centena de caçadores espanhóis e, voltando ao que eu dizia, estava falido mas cheio de glória, registada em tudo o que era livros, revistas ou jornais de caça que o mencionavam repetidamente fosse pelo que fosse.

Um artigo do “Notícias da Beira” de 24/08/1964, com o título ”Rendez-vous da Nobreza Espanhola nos Tandos de Moçambique”… terminava assim:
“Perspetivas Extraordinárias
Segundo fomos informados, uma parte considerável dos turistas que já terminaram o seu safari deste ano, deixaram já marcações feitas e depósitos pagos para a época de 1965. Não há necessidade de esconder que a indústria do turismo cinegético tem singrado dentro do velho mas muito falível princípio da «inspiração do momento» que até hoje, felizmente, tem funcionado, conforme provam os resultados.
Põe-se porém a questão de saber até que ponto essa «inspiração do momento» salvará situações de emergência como as que têm surgido no decorrer destes anos… Julgamos, portanto, que é tempo de olhar a sério para uma indústria de tão grande importância para a Província. De facto, se ela em regime de improvisação e «diletantismo» está a produzir tão animadores resultados, como seria se estivesse solidamente estruturada e a funcionar na plenitude das suas capacidades?!”

O Dr. Oliveira Salazar, que sabia que com este homem e mais um pequeno grupo como ele, através desta profissão, se poderia dignificar a caça e o turismo perante a sociedade, sugeriu ao Banco Nacional Ultramarino que financiasse e administrasse uma sociedade formada por tais Outfitters que, arrastando com eles cada um dos seus caçadores guias contratados baixo uma só bandeira, a “Safrique”, constituiria a mais poderosa sociedade de safaris existente no Continente.
Talvez porque José Simões aportava à sociedade mais áreas de caça que os outros Outfitters, era o Diretor Técnico da Safrique tendo sido posteriormente legalizado em boletim oficial o seu singular estatuto profissional como Caçador Guia Chefe. O único em todo o território português à época.

       De coqueras, J. Simões e Armindo Vieira (Marabu)

Os outros Outfitters que na sociedade aportavam outras áreas eram: o prestigioso Alberto Novais de Sousa e Araújo, que ainda antes de José Simões ter conseguido influenciar a oficialização da profissão, já recebia e guiava estrangeiros em caçadas em Moçambique. Homem verdadeiramente pró Natura, também adorava e dominava as artes da Pesca. Aportava à sociedade a coutada nº 1, que mais tarde era desapropriada da Safrique, para se fazer dela uma reserva de caça, como proteção ao lado em que a mesma tocava no Parque Nacional da Gorongoza. Parque pequeno, mas notável!
Outros dois Outfitters que se juntavam à sociedade eram o Armindo Vieira e Vergílio Garcia com as coutadas nº15 e nº12, respetivamente. Estes também tinham sido caçadores de carne e marfim muito antes de José Simões e também tinham sobrevivido ao câmbio de caçadores para guias profissionais.
A “Safrique” era o resultado. Oferecia de tudo o que fosse turismo, desde a caça à pesca, passando pelos Parques Nacionais.
José Simões era o último dos Outfitters a trespassar as suas três coutadas para o nome da sociedade, mas apenas durante a terceira administração e sob promessas a título pessoal do Governador-geral de Moçambique, pois discordava, como sócio que era, das linhas e intenções da administração.

O Governador-geral de Moçambique, Sr. Almirante Sarmento Rodrigues ao centro, num dos acampamentos móveis da "Safrique"

Ao Banco não lhe importava perder dinheiro, que poderia ser apresentado como investimento no desenvolvimento do Turismo, mas todos os sócios sabiam que se estava a mal gastar, devido a interesses pessoais dos administradores que, como homens de negócios que eram, tentavam vender à Safrique tudo que podiam, tudo…
Um Land Rover velho que pertencia à ex Simões Safaris era reparado na garagem de um dos administradores que tinha negócios de garagens de reparação de carros e hotelaria e as contas da reparação eram iguais a carros novos. E a administração insistia com o argumento de que na sociedade os Outfitters não lhes explicavam como gastar.
Foi um braço de ferro entre José Simões e os vários administradores da Safrique, Sr. Sampaio, Júlio Lopes e Saul Brandão.
Um dia J. Simões era chamado a Lourenço Marques (atual Maputo) pelo Governador-geral de Moçambique que, entre promessas de garantias feitas como filho de carpinteiro e não como Governador, conseguiu finalmente convencer José Simões a assinar o documente de trespasse das suas três coutadas para a Safrique.
Nesse momento, o Banco passou a ser proprietário de tudo, tornando-se apenas numa questão de tempo para que surgisse uma ocasião para se livrarem dele… e esta já existia!

Tinha havido um acidente mortal de caça, no qual um dos guias profissionais da Companhia tinha equivocadamente disparado um tiro que matara a filha dum cliente espanhol que, também ferido pela mesma bala, só se salvou por milagre, depois de operado pelo Prof. Dr. Gil Vernete que se deslocou de Espanha à Rodésia (atual Zimbabwe), onde ainda existiam condições mínimas hospitalares necessárias para uma tal operação.
Em seguida foram inventadas histórias muito pouco ortodoxas sobre as causas do acidente que se tornou uma obsessão para José Simões, convidarem o cliente, que também era seu amigo, a vir testemunhar em tribunal a falsidade de tais histórias… foi a gota de água que fez transbordar o copo. 
Uns meses mais tarde era dispensado dos seus cinco anos de diretoria técnica da companhia, depois de devidamente compensado, claro!

 

Foi de tal forma desmedido o que aconteceu, que o Ministério que regulava a Caça teve que modificar ligeiramente a lei de caça para que, depois de tudo, José Simões fosse autorizado a caçar como Outfitter em áreas classificadas como livres, reservadas à pratica da caça para os residentes do País e que anteriormente estava interdito aos guias profissionais ou Outfitters para aí desenvolverem o Turismo e vice-versa, pois um residente não podia caçar nas coutadas oficiais.
 

Recentemente, a pessoa que ocupou a diretoria técnica da Safrique depois do Simões, um tal Adelino Serras Pires, editou um livro sobre as suas andanças, onde lamentavelmente comentou que também foi um dia diretor geral da maior companhia de caça em África, não contando porém nada mais sobre a sua formação, do que o facto de ter sido formada por um “…small cozy group” (pequeno grupo de merdas), amigos do Governo e como não podia com eles, juntou-se-lhes.
 

José Simões não era alguém importante para poder enfrentar Bancos e Presidentes, mas estou certo de que quando decidiu ir a Portugal para tentar falar novamente com o Dr. Salazar, seria para ingenuamente lhe falar no mínimo da incompetência, para não dizer outras coisas, da gente com quem o Presidente lhe tinha recomendado associar-se, pois a “Safrique”, resultado da aglomeração de vários Outfitters administrados pelo Banco Nacional Ultramarino, não era - como o Sr. Celestino Gonçalves descreve José Simões na internet - a única solução para resolver qualquer que fosse o problema económico em que se encontrava a “Simões Safaris” como ele mesmo (J. Simões) declarou ao “Notícias da Beira”, em Novembro de 1963, «que receberia para a próxima época de caça, até 50 turistas espanhóis e que recebera oferta de capitais metropolitanos para ampliar a sua firma, oferta que rejeitara por tencionar dar à sua organização uma direção mais aconselhável atendendo às necessidades económicas da Província» …

Último encontro de J. Simões com o Dr. Oliveira Salazar. O Presidente do conselho falecia 15 dias depois...

Ao que foi dito eu pergunto, o que tinham os seus problemas a ver com todos os outros Outfitters que se unificaram?
Autorizaram a sua visita ao ex-presidente que faleceria 15 dias depois; quem governava há já algum tempo era o Dr. Marcelo Caetano.

Só lhe restava poder operar nas áreas livres como lhe permitia a nova lei e onde, até essa altura, ninguém imaginava que pudessem ser competitivas e capazes de suportar as exigências de qualquer tipo de caçador turista internacional.
Pois bem, a caça em Moçambique estava de boa saúde e entre as cinco áreas eleitas pelos cinco guias profissionais, que tiveram a desgraça ou o privilégio de serem os primeiros desse género, fizeram-no orgulhosamente bem até o momento da sua partida para Angola.
Era uma sociedade de cinco Outfitters, pois a lei que agora lhes permitia caçar turisticamente em áreas livres não lhes permitia empregar caçadores guias, ou que cada um deles tivesse mais do que uma área.
José Simões pedia e montava um acampamento no Chiniziua, o Victor Cabral fazia o mesmo na Mazamba, o Chico Martinho no Matondo, o Amílcar Jorge no Guro e não estou certo de quem estava no Catolene.
Entre esses cinco blocos de caça, chamemos-lhes assim, fizeram-se realmente safaris bem catitas.

 

Estávamos em 1973, a guerra colonial nunca estivera pior e alguém com autoridade para tal confiou-lhes umas pequenas e simpáticas metralhadoras “Star” de calibre 9mm Parabellum e umas poucas granadas de mão, para o caso de, como já era possível acontecer, terem algum encontro inesperado com a guerrilha que se tinha concentrado, num esforço de sabotagem à construção da Barragem de Cabora Bassa, relativamente perto da qual se encontravam algumas dessas áreas.
 

Eu encontrava-me de férias escolares na altura e acompanhava o meu pai no safari que ele ia iniciar pelo acampamento da Mazamba, do Victor Cabral (um dos cinco Outfitters independentes que agora atuavam em áreas livres) acompanhando um casal espanhol que também trazia o seu filho a caçar.
Surpresa ao chegar! O acampamento tinha acabado de ser queimado por quem queria construir um país novo, disseram-nos os empregados que se encontravam nos restos do acampamento que ainda fumegava.
O melhor entendimento dos factos, foi o de Victor Cabral ter estado uns dias antes a praticar tiro com o seu novo brinquedo, a Star 9 mm e isso ter aparentemente irritado a guerrilha.
Depois disso, José Simões partia para Angola. Tinham queimado o acampamento do seu sócio na Mazamba e não o dele, como nos relata esse mesmo livro recentemente editado por o Sr. Adelino Serras Pires. O cliente sim era de José Simões e ainda estava bem fresco na sua memória o acidente sofrido pelo outro cliente e amigo, já aqui referido antes.
O autor desse livro apenas refere José Simões num parágrafo, para equivocadamente nos informar que o tal acampamento que fora queimado ao Simões fazia-o ir para Angola e dentro do contexto parece-me querer insinuar que, por razões similares, a ele mataram-lhe um cliente e feriram-lhe outros.
Parece haver uma necessidade comum entre alguns dos novos autores de livros de caça africana de expressão portuguesa, de mencionarem entre os seus horrores, que um tal José Simões também os sofreu de igual forma, como se isso justificasse de algum modo o que eles faziam ou lhes haviam feito!
Mencionam José Simões num só parágrafo dos seus livros e fazem-no como que para explicar a alucinação da nossa saída das colónias. Eu estou convicto de que foi apenas para se posicionarem, uma vez que ninguém poderá falar seriamente sobre safaris à portuguesa em África, sem ter de mencionar José Simões como Outfitter de primeira categoria.
Pior do que não revelarem a verdade que bem conhecem sobre esse mago da nossa caça em África, é mentirem sobre ele!
Esses mesmos autores, em lugar de falarem do seu papel na caça preferem fazer referências sobre os seus êxodos como mais um refugiado. Pois bem, eu pergunto-lhes quantas pessoas conheceram eles durante tais debandadas de um país para outro, que o conseguiram fazer carregando com outros tantos na sua ‘mochila’.
Não me quero perder a descrever cada uma das suas mudanças forçadas de um lado para o outro, mas apenas deixar registado que a seu lado foi sempre tudo tão fácil! Às vezes até bem divertido!
A dada altura do Sudão e enquanto famílias inteiras de retornados, como nos chamavam em Portugal, ainda viviam aglomerados nas mansões confiscadas aos ricos, José Simões carregava com 27 portugueses que, antes de chegarem a Juba (capital do sul do Sudão), onde se situava a base da sua nova operação, já tinham passado pelos Aparthotéis da Av. Castellana de Madrid, hotéis de 4 estrelas no centro de Roma, para adquirirem vistos para o Sudão. E, à chegada a Khartoum, capital do País, hospedava-nos no Hotel Meridian. Os nossos bilhetes de avião somavam um total de seis milhões de pesetas e só os salários da gente que ele carregava somavam mais de duzentos mil dólares por ano… E foi sempre assim, Sr. Celestino, que ele esbanjou o dinheiro que ganhava!
Todos ou quase todos os seus empregados conseguiram comprar casa própria e alguns deles com empréstimos extraordinários feitos por este patrão que não lhes cobrava interesses. Em alguns casos, nem sequer lhe foi devolvido o próprio empréstimo.
Com respeito ao divertido que eram as nossas idas e vindas do Sudão, éramos capazes de estar sempre preparados para sair em qualquer altura que o patrão quisesse, ou permanecer no Sudão durante o tempo todo que ele dissesse, pois com tudo o que havia no Sudão que pudesse ser difícil, José Simões tornava-o fácil a funcionários e clientes, como eu nunca voltei a presenciar na vida!

 

Voltemos ao acampamento do Victor Cabral na Mazamba, que ainda fumegava, em rescaldo do ataque que sofrera, quando J. Simões, clientes e eu lá chegámos.
Lembro-me de ouvi-lo dizer ao cliente, “… caçaremos aqui os primeiros sete dias do safari como estava planeado e outros sete dias no Chiniziua”, que não estava muito longe da Mazamba, explicando ao cliente que quem tinha queimado o acampamento já estaria bem longe daquela zona, por saberem que em 48 horas, como máximo, o exército português estaria no terreno. O cliente, que certamente sabia com quem estava, só respondeu: “… assim o queres, assim seja”.
Era Agosto de 1973 e seria o seu último safari em Moçambique, pois conseguiu transferir para Angola os restantes safaris que ainda tinha para essa época de caça, com a preciosa colaboração do caçador guia-Outfitter Artur Paulo de Carvalho, (o Turra, como todos nós na caça o conhecíamos) que incondicionalmente ofereceu espaço a J. Simões numa das suas áreas de caça localizadas no deserto de Moçâmedes, onde este profissional operava; a Gruta… um dos acampamentos de caça mais castiços que conheci! Localizado entre uma pilha de pedras no meio de não sei onde nesse deserto, no qual se encontra a planta com as folhas mais compridas do Mundo - a Weliwítschia mira bílis.
Um acampamento pequeno, apenas composto de uma gruta natural que fazia de sala de jantar e outras duas grutas que faziam de quartos de dormir. Era incrível sentir o frescor desses quartos, quando tudo lá fora ardia ao sol!
No topo dessa pilha de pedras e a uns 7 metros de altura também havia um terraço natural, onde se curtia a fogueira que todos os acampamentos de caça têm por tradição fazer.
Para rematar, o Turra (forma comum de designar o guerrilheiro) que era um bom turra, tinha duas preciosas empregadas de mesa da tribo Mukubala, que serviam as refeições em tronco nu… tornando este pequeno acampamento numa das maravilhas do Planeta. Durante este final de época de 1973, José Simões consciente de que não poderia, ou não deveria voltar a caçar turisticamente em Moçambique, usou esta ocasião para se preparar para a seguinte época de 1974 e nela viria a ser o diretor técnico da organização de caça “A Safari”, que era como um braço de turismo, pertencente à grande Seguradora Portuguesa” A Nacional”.
                                                         

 

Uma companhia modesta com apenas sete caçadores profissionais, mas que realmente tinha duas das três melhores áreas de caça grossa de Angola; as áreas do Luengue e Luiana. No Mucusso vizinho, estava Hernâni Espinha, o considerado pioneiro da modalidade em Angola, iniciado num par de anos depois de José Simões ter conseguido que oficializassem esta profissão em Moçambique e isso tivesse sido noticiado pelo jornal português “O Século”.

José Simões e o caçador-guia Manuel Figueira, o seu gerente de campo em Angola

Em Angola não teve tempo de desenvolver os seus potenciais, uma vez que só chegara em 1973 e teve de a abandonar no final de 1975, com o estalar da guerra civil entre os Ex três movimentos de libertação (MPLA, FNLA e UNITA), mas fê-lo já depois de ter conseguido que saísse no Boletim Oficial de Novembro de 1975, por decreto dos três movimentos que na altura governavam oficialmente o País, que lhe fosse entregue para a exploração cinegética a coutada oficial da Mavinga que, devido à sua localização a norte da área do Luengue e ao facto desta fazer fronteira com a do Luiana, formavam o bloco com a maior biodiversidade de caça grossa em Angola. Adicionalmente, no mesmo boletim oficial era decretado a seu favor a autorização da exploração do Parque do Lugêna, aonde se encontrava as únicas espécies de Sable Gigante, ou Palanca Real, como lá é conhecida.

 

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Porquê o Sudão a seguir? Novamente só José Simões nos poderia responder, mas aconteceu que o Sudão seria a partir dessa altura, um dos três “boom” da caça em África durante a década seguinte e talvez tenha sido essa a época mais brilhante dos safaris desse País. Os outros dois países mais competitivos eram a Zâmbia e a República Centro Africana.

Com as independências de África, os Outfitters que antes operavam como em casa, ou seja, cada um nas suas respetivas colónias, tiveram que se adaptar a caçar em qualquer outro país onde houvesse caça e esta fosse autorizada. Em resumindo, tiveram que se internacionalizar.
No caso do caçador guia e Outfitter português, ainda em 1973 a situação era normal, em 74 vários saíam de Moçambique para Angola e República Centro Africana e em 1975, já com o êxodo para o Sudão, misturavam-se todos num par de companhias. Uma salada de caçadores guias e Outfitters de Moçambique, Angola, Quénia, Tanzânia e do próprio Sudão.
Nessa época em particular, ficava pelo caminho a maior parte dos Outfitters de caça da ex África Portuguesa.
Era difícil para todos suportar o que se estava a passar nas nossas vidas, e ainda ter vontade e garra, ou não ter outro remédio, para pensar em ir caçar profissionalmente para outro país. José Simões tornara-se uma consequência da Caça Profissional Portuguesa em África e como só por isso, um dos que vai para o Sudão e arrasta consigo 90% dos caçadores-guias portugueses dos que ainda estavam para todas e alguns por estrear.
Durante os últimos sete dos dez anos de caça que iriam durar o Sudão, José Simões seria o único Outfitter português, que ainda aí operava e tinha uma das três companhias que sobreviveram, das oito que operavam quando lá chegámos em 1976.
Abandonávamos também o Sudão em 1987 pela evolução da guerra civil no sul, que perduraria por cerca de vinte anos, encabeçada por John Garang.

             Três chefes no Deserto de Núbia-Sudão

                  Mariano Ferreira Jack Silva e J. Simões

Eu com meu pai em Luengue-Sudeste de Angola (1975)

Durante o meu tempo de escola e nas capas dos nossos cadernos estava impresso, por ordem administrativa, um poema que começava mais ou menos assim:
“Se um dia vês tombar o que ergueste de nobre na vida e começas logo a reconstruir…
Se arriscas tudo numa carta e perdes, mas continuas a sorrir…
Se… Se… Se… meu filho, tu serás um Homem!”
Aqui, reconheci de imediato José Simões e a forma como viveu toda a sua vida. O “timing” da história apanhou-o em cheio!
Eu ainda era um bebé para me poder recordar de como foi para ele passar de caçador profissional a caçador guia, mas tenho memórias bem frescas dos seus tempos de “Simões Safaris”, “Safrique”, independente a solo e saída para Angola como fiel depositário da “Safari”, onde iniciei também a minha carreira como caçador guia profissional e em consequência, num mano a mano para sempre com ele.

Carlos Faria, Manuel Figueira, eu e João Cardoso viajando de Mombaça  (Kenya) a Juba (Sudão) com tudo que foi salvo de Angola.

Em Angola apenas estive parte da época de 1975, seguindo-o depois para o Sudão.

Já tinha tido oportunidade de ver, em 1973, como José Simões lutava em Angola por tudo o que envolvia a organização de safaris e, desta vez, já fora de casa – concessão, áreas, clientes, acampamentos de caça e concorrência – mas apenas no Sudão pude apreciar toda magnitude da sua capacidade.
Que privilegiado fui por ter sido caçador guia profissional durante uma década nesse maravilhoso país de caça, como um dos seus empregados favoritos! Dizer que o Sudão é uma maravilha da caça, não implica que sempre assim fosse, pois a logística necessária para se operar era nula. A comida e os sobressalentes dos 25 Toyotas de caça que José Simões já tinha em 1980 (4 anos depois da sua entrada no País, com apenas 2 Toyotas e um Unimog) eram importados de Portugal ou Espanha e o combustível do Quénia, via por onde também passaram os Toyotas comprados no Japão.
Dito isto, já se pode fazer uma ideia da enorme capacidade de J.S., que em 1977 contava apenas com seis caçadores guias profissionais, sendo que em 80 já eram dezassete que para ele trabalhavam, dois supre mecânicos, um bate-chapa, um piloto que voava o avião Cessna 260 adquirido pela sua companhia, dois homens na intendência e cinco senhoras, esposas de alguns dos profissionais a quem estava atribuída a tarefa de organizar os três acampamentos principais de um total de sete;

Gemmeiza, Sakuré e Tonje.

Hoje ouve-se falar com nostalgia dos grandes anos da "Safrique", como algo nunca mais visto de tão bom e grande, mas que me seja permitida a comparação, para me poder exprimir sobre a "Sudanese International Tourism Co." e a "Nimerico Safaris", que José Simões fundou no Sudão em 1976, depois de sair de Angola, quase com uma mão à frente e outra atrás.

Bom, simplesmente três vezes maior que a Safrique, que se acredite ou não!

Esta seria a última vez que reconstruía a sua companhia, pois quando nos tivemos que transladar para a Zâmbia, esse luxo foi-lhe renegado pelas leis regentes do País, as quais proibiam os estrangeiros de serem donos de qualquer negócio no País.
Comunismo, protecionismo, para não lhe chamar algo mais! Era disto, que andei a fugir desde que saí de Moçambique… totalitarismos, nacionalizações, pretização, etc. … Ideias que importaram das potências que haviam subsidiado as guerras das independências e cujo único resultado foi o de conseguir fazer com que África perdesse o norte político. Hoje, são tudo ou querem ser, menos eles próprios!

 

Bom, o que aqui interessa não é definir as linhas ideológicas do Governo de Kenneth Kaunda, pois esse era igual a todos os que estavam subjugados aos comunistas e a rebentarem pelas costuras, como se costuma dizer. Três ou quatro anos depois da nossa chegada à Zâmbia e obrigado pelo FMI, ou pelo que fosse, aceitou autorizar as primeiras eleições do País, depois dos seus 27 anos de governo e, como era de esperar, o seu partido que era o único (UNIP) até essa altura, perdia por 90% com o partido que até hoje governou o País (MMD).

O que era novo para mim e muito provavelmente também para José Simões era o tipo de gente branca que iríamos conhecer. Gente que possivelmente se sentia recalcada por ter tido que viver neste País durante esses 27 anos do governo de Kaunda e que agora odiava quem chegava sem o seu consentimento.
Se José Simões era um destes casos, seria apenas por ter vindo colaborar com um Outfitter de raça negra.
Tinha sido homenageado como o Outfitter do ano durante a convenção de caça de 1984 do “ Safari Club International” e em 1986 tinha de abandonar o Sudão devido à intensificação da guerra civil que John Garang já tinha iniciado desde 1983 e certamente pensou e bem, que essas convenções seriam o lugar propício para escolher o destino para o qual seguiria, provavelmente recomendado pelos seus bons amigos do Safari Club International.

Foi aí que conheceu o Zambiano Peter Mukanda. O homem que tinha sido o primeiro “Chief Game Warden” durante os primeiros 17 ou 18 anos da independência do seu País. O homem que custodiou entre outros, a formação de quem até há um pare de anos era o Diretor Geral da Caça na Zâmbia e que depois dos anos que já tinha como “Chief Game Warden” e Kaunda autorizar a iniciativa privada a zambianos, escolheu deixar o Departamento de Caça e fundar a sua própria companhia de safaris, a “Mulobezi Safaris” que operava a área de caça com o mesmo nome.
Aparentemente P. Mukanda não tinha clientes suficientes para a sua fantástica área de caça e J. Simões não tinha área de caça para os seus clientes. Não havia certamente melhor combinação de interesses entre as centenas de outros Outfitters que promovem todos os anos nessa convenção, a sua caça.
Durante os seus anos como “Chief Game Warden”, Peter Mukanda tinha impulsionado a formação de uma Associação de Caçadores Profissionais, numa tentativa de melhor eleger ou filtrar quem de fora quisesse vir caçar profissionalmente na Zâmbia, mesmo tendo sido aconselhado em contrário e avisado por alguns colegas, de que um dia essa Associação poderia tentar querer ser mais do que aquilo para o que tinha sido criada… e assim aconteceu!
Em 1987 essa Associação, que só tinha ainda um membro negro, o próprio P. Mukanda, seria a sua e nossa maior dor de cabeça, pois tornou-se na única via pela qual um profissional estrangeiro teria que passar, para poder fazer os exames oficiais obrigatórios a provar estar apto a caçar no País, mas só depois de recomendado por essa Associação, que antes de o fazer, também o examinava.
Eram exames verbais que podiam durar até duas horas num bombardeamento de perguntas, sempre que fosse preciso reprovar alguém que a priori eles não quisessem que caçasse na Zâmbia… e José Simões foi reprovado por não ter respondido corretamente a três perguntas entre centenas de outras que lhe fizeram.
Não sabia que na Zâmbia era proibido caçar com arco e flecha; que era permitido caçar à pistola, mas que o cliente só poderia importar seis balas para o safari e a terceira questionava sobre quais eram as autorizações que um cliente deveria possuir para poder caçar legalmente no País? Simões respondeu: autorização de importação das armas, a Licença de Caça, a Licença para a área que iria caçar e as Licenças de cada um dos animais que iria abater.
Disseram-lhe que a resposta estava incompleta e depois de J. Simões lhes contestar que não sabia porquê, eles responderam-lhe que o cliente também necessitava da licença do Caçador Profissional que o iria acompanhar… tornando desta maneira e cada vez que queriam, este teste de lei e aptidão num teste de inteligência saloia.
A seguir cabia-me a mim ser examinado e chamaram-me à sala com J. Simões ainda lá dentro, o qual sem nenhum preconceito e muito à sua maneira, disse-me em frente deles todos (5 examinadores, dos quais só três eram guias de caça e com menos anos de profissional que eu): “Ouve Duri, tu és maior de idade e farás o que por melhor entenderes, mas parece-me que só nos querem ridicularizar com isto que eles chamam exame de aptidão”.
Não foi preciso eu ouvir mais nada, para ter decidido que não faria o exame, pois nos temas relacionados com o mundo da caça e dos safaris nunca ninguém me explicou melhor as coisas que José Simões, que era um grande mestre para além de meu pai.
Se esta gente pensou por algum momento que desta maneira o desencorajava a entrar na Zâmbia, não o conheciam tão bem como pensavam.
Alguém disse uma vez “Um grande obrigado a todos aqueles que me atiraram pedras, pois com elas eu construí o meu castelo”.
Provavelmente por ter perdido o seu pai quando ainda só tinha 13 anos de idade, este homem estaria habituado às invejas da sociedade e este tipo de ‘guerras’ apenas lhe estimulavam a estamina e a vontade férrea de seguir em frente.
Peter Mukanda, que tinha sido o padrinho dessa Associação de caçadores profissionais e ainda gozava de grande consideração no seio do Departamento de Caça, conseguiu que este aceitasse examinar-nos mesmo sem ainda termos sido recomendados pela Associação e assim tornando-nos provavelmente nos únicos profissionais autorizados a caçar no País sem essa prévia recomendação. Possivelmente teria também sido a primeira vez que alguém enfrentava oficialmente a Associação, que vinha já há algum tempo a abusar do poder que tinha adquirido e era denunciada a sua patética descriminação na avaliação da competência profissional dos caçadores recém-chegados.
Com esta guerra só tinham conseguido estragar a boa recetividade turística do País, aos diretores da rádio Ser e Cope de Espanha, que tinham vindo caçar com José Simões e comigo, e acabaram por ter de o fazer com mais outros dois profissionais, que atuariam como fachada oficial, para não falar no ambiente de policiamento que se criou no acampamento… suficiente para que esta gente nunca mais tenha querido voltar a caçar na Zâmbia.
A Associação estava tão obcecada com o poder de que gozava e tão predisposta a talhar a entrada de Simões na Zâmbia, que antes de termos sido chamados para o exame oficial, aconselharam o departamento a não aceitar gente de idade tão avançada como José Simões, que tinha 60 anos.
A isto J. Simões respondia ao Diretor da Fauna da maneira singular de que só ele se lembraria… e, antes que algum dos presentes no gabinete do Diretor tivesse tempo de reagir, começou a arrastar alguns sofás para os lados e, no segundo seguinte, já ele tinha feito um “flic-flac” no escritório do Diretor perante a surpresa de todos, solicitando ao Diretor que pedisse a quem o chamara de velho que tentasse fazer o mesmo.
Com esta pequena demonstração, ficava claro que já tínhamos passado o exame ainda antes de o fazer.
Durante essa época José Simões só contava com uma dúzia de safaris; em 1988 a Mulobezi Safaris, que já tinha absorvido outro Outfitter e alugado uma outra área de caça ao “Zambia National Tourism Board” (Departamento Regulador do Turismo do Governo) fazia 28 safaris e em 1989 revogavam-lhe temporariamente a licença de Outfitter, acusando-o de caçar excessivamente.
Peter Mukanda, que era um cavalheiro em todo o sentido da palavra, sabendo que por detrás desta patética acusação ocultavam-se outros motivos e gente graúda envolvida, pois apenas caçaram o que havia sido autorizado e vendido pelo próprio Departamento de Caça. Contudo, mesmo após a investigação feita pelo próprio Departamento que não encontrara provas de que algo tivesse sido ilegalmente praticado, tal revogação não foi anulada. O tribunal não adiantaria nada que o Presidente Kaunda não autorizasse e, aparentemente, não autorizou. Mukanda aconselhou José Simões a colaborar com outra companhia, pois ambos já tinham permanecido inativos durante a época de 1989.
Não estou em posição de comentar a razão pela qual este Presidente cortava as pernas ao primeiro cidadão negro do seu País que realmente levantava a cabeça neste mundo quase exclusivo de Caçadores Brancos, aqueles que ele mesmo queria evitar quando à meia dúzia de anos atrás tinha autorizado a iniciativa privada só para cidadãos nacionais.
Seria durante a sua promoção de safaris para 1990 que se iniciaria o fim de todas as suas façanhas, sonhos e até a sua própria vida, quando num hotel das Ilhas Canárias decidiu ir fazer exercícios de bicicleta no ginásio de que o hotel dispunha, para se por em forma depois da inatividade a que tinha sido forçado durante a época de caça anterior, em consequência do que sofreu uma espécie de trombose que o deixava com uma das pernas parcialmente afetada, não podendo assim continuar a caçar certas espécies de animais dos quais, cuja caça exigia por vezes longas caminhadas.
Ainda caçou durante toda essa época de caça, mas foi como ouvir uma sentença quando os médicos o proibiram de voltar a caçar em 1991... a tão pouca distância, digo eu, de poder reconstruir novamente a sua vida como sempre e tão bem o fizera, pois foi nesse mesmo ano que Kaunda, levado pelas circunstâncias da sua vida, via-se obrigado a permitir o investimento estrangeiro no País e eu registava a minha própria companhia, a “Maningi Safari”, que desde o primeiro leilão para os direitos exclusivos de concessões de caça do País em 1993, 1996 e 2001, foi sucessivamente adquirindo as áreas de “West Zambezi", "Lower West Zambezi" e "Upper West Zambezi".
Como já disse antes, José Simões caçou toda a vida e falava de caça, desde o dia em que foi oficializada esta profissão em terras de Portugal, de forma verdadeiramente contagiante, pelo que me permito fazer aqui uma referência a um pequeno detalhe da sua última época de 1990.
Dois dos clientes caçadores que tiveram o privilégio de tê-lo como guia de caça durante os seus safaris desse ano e que eram estreantes em África, tornar-se-iam uns anos mais tarde Outfitters de Caça em Moçambique e Sudão respetivamente, como resultado desse tal contágio, que atingia qualquer caçador que tivesse privado, ouvido ou visto de perto este Grande Mestre a atuar.

Última vez que caçaram juntos foi em Angola

José Simões recebendo o troféu de "Outfitter" do ano de 1984, durante a Convensão de Caça do "Safari Club International"

Alberto Araújo... Provavelmente o 1º caçador guia em Moçambique, com um raro troféus duma das suas aventuras.

José Simões conversando sobre Turismo com Exmo. sr. Presidente Almirante Américo Tomás.

Parte das viaturas da "Simões Safaris"

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