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ÉTICA







Uma vez perguntaram a Mário Soares, quando ele era Primeiro-ministro em Portugal, se alguém da oposição teria decidido melhor que ele sobre já não sei o quê! E ele respondeu: “ O estilo é o homem e cada um tem o seu”…. Nunca mais disse nada tão acertado.

Predicar éticas a outros é como predicar-lhes Moral e isso é utopia.

“World Ethical Hunter's Association” é uma dessas associações criadas na Namíbia e como esta há muitas outras mais, para regular a Ética dos caçadores.
Como primeiro mandamento ela ordena “dizer sempre a verdade”!
Não só falando de caçadores e pescadores, que por boa natureza são exagerados, quem diz a verdade?
Num tribunal há sempre pelo menos duas verdades! Isto só para comentar que o primeiro mandamento desta Associação que tenta criar ética na caça, é totalmente discutível.

Quando se lê sobre ética na caça, parece que em geral quem a predica quer fazer-nos pensar, que somos superiores em tudo comparando-nos aos animais e isso é mau prelúdio, porque pelo contrário, somos sem sombra de dúvida, um dos mais fracos e leigos como animais.
Quase resumem a ética na caça, como se só do momento de puxar o gatilho se tratasse.
Atirar de cima dum carro a um animal, poderá acarretar sérias consequências a quem fosse apanhado a fazê-lo e claro, só por questões de ética, pois ninguém será tão mal visto, por atirar duma barca ou uma plataforma elevada a um Hipopótamo, um Crocodilo, uma Sitatunga, ou a um Leão ou Leopardo, etc. …

                    

Quantos são os caçadores que caçaram os seus Oribi, Steinbok, Dik-Dik, etc. …a pé?

Duvido que cheguem a cinco por cento, dos que já caçaram tais animais!
Também será muito criticado e em alguns casos até pode acarretar sérias consequências, a quem atirar a um animal em bebedores, ou a menos de quatrocentos metros duma fronteira com um Parque, mas às vezes encontramo-nos no terreno, com um rio como fronteira dum Parque e uma área de caça, por outras palavras, é fronteira e bebedouro e é aí que quem tem situada a sua área de caça oficial e uma quota de animais obrigatória para abater, caça o Hipopótamo e o crocodilo…e porque não de barco?

       Plataforma numa árvore usada para a caça do Leão

                  Bebedouro e fronteira de Parque que se pode caçar

Caçar à noite é outra que complica muito com a ética do quadrado, aquele que não admite que qualquer predador aproveita naturalmente todas as oportunidades de caça….Que a noite existe, tal como o dia e que não foi necessariamente para a Natureza dormir.

Se há coisas em África que têm batida, uma delas é com certeza a noite.
Não caçar à noite, porque as leis de alguns países assim quer, assim seja, mas por mais nenhuma razão.
A caça à noite tem uma beleza singular e é como outro mundo para aprender, desafiar e desfrutar.
Não tem nada que ver com o que se pensa em geral, de que com um faro de um milhão de velas de potência, se consegue pôr as bestas a trinta metros de distância. É sim com carnadas estrategicamente colocadas com maestria, ou chamadas sonoras imitando-os e iludindo-os, que nos faz sentir o coração saltar do peito quando as bestas assinalam que nos ouviram e que se aproximam, tornando nada garantido o poder aguentar toda a largada de adrenalina que fluí nas veias até á chegada da verdade, por medo, respeito, gozo ou o que se lhe quiser chamar.
Ética na caça tem pouco que ver com o sítio aonde estava pendurado o caçador, quando e como estava, puxando o gatilho.
Sempre se usará artimanhas na caça sem ofender necessariamente a Ética, para se atrair o animal que se quer caçar e que em alguns casos até necessitaremos da ajuda dos nossos grandes amigos, companheiros imemoriais da caça; os cães, pois por vezes nem o caçador ajudado por guias profissionais e locais juntos consegue prever tanta astúcia de certos animais nos seus próprios habitats.
Em alguns países, já proibiram o caçador de levar o seu maior amigo a caçar.

                        O 1º Astronauta. A cadela LAIKA

Que mais farão ao cão, essa gente que fala da ética na caça, como se fosse mais difícil caçar com ela?

Se não foi por acaso o cão que ensinou o homem a caçar, foi com certeza ele quem primeiro mandámos ver como era o Espaço. Lembram-se da cadela Laica?

Pobre velho amigo! Neste caso o brasileiro chamaria ao homem “Amigo da Onça”.
Outros países proíbem-nos de caçar com carnadas, ou com arco e flecha, ou á pistola, etc. …. Cada um com as suas normas de Ética, mas contudo o que realmente é importante, é, caçando, não ofender ou chocar com as éticas da população local, que são os verdadeiros donos da caça que vemos…. O resto só serve para encher livros e cadernos com predicados fictícios e que acabam sendo desrespeitados, se assim quisermos julgá-lo.
A lei bem aplicada deve ser á letra e espírito, ou castigar-se-á sempre o justo pelo pecador.





Considerando que fui filho de um profissional de caça desde que nasci e consequentemente com doze anos de idade já manejava uma arma tão bem ou melhor que um soldado, como poderia o meu pai proibir-me de caçar um ou outro animal, só porque a lei do país proibia-me de o fazer com menos de dezoito anos? Teria desrespeitado a lei, se não fosse aplicado o seu espírito.

Posso-vos garantir que mesmo já tendo caçado de noite, atirado de cima de um carro, dum barco, duma árvore ou fotografando-me encima de um elefante, que nestes novos tempos também incomoda muita gente e ainda assim respeitar e amar muito mais os animais, do que aqueles que apesar de predicarem contra tudo isso, fazem ou permitem fazer filmes em série, sobre a fúria dos animais em carga e que só Deus e o Diabo saberão o que lhes fazem, para os provocarem até á carga.
São muito poucas as profissões tão liberais como a de caçador-guia profissional. Cada um tem as suas convicções sobre o carácter dos animais e portanto diferentes maneiras de os caçar.
Somos regulados por morais, leis e países diferentes, tribos locais, habitats e animais também diferentes e como se isso não bastasse, somos contratados por gente diferente, mas queremos formular uma ética igual para tudo e para todos.

Ética na caça profissional começa no momento da montagem da companhia. Que motivos nos levam a montar uma companhia de caça? Como desporto porque caças? A tua equipa beneficia das tuas práticas? Consegues conviver, ensinar e aprender com os diferentes da tua área? Consegues entrar, caçar e sair da área sem que os animais se apercebam do que andaste a fazer? Suportas concorrência leal? Consegues vender sem mentir? Sempre que possível comunicas-te com a tua equipa no mesmo idioma do teu cliente? Consegues evitar dobrar tiros desnecessários, para deixar caçar quem pagou? Criar conforto e amizade para que quem contigo caça se sinta como em sua casa?
Fala-se e exige-se pouco de camaradagem e solidariedade para com colegas, patrões, empregados e concorrência leal; respeito, humildade, disponibilidade e amizade para com os clientes.
Os nossos livros (de profissionais) estão cheios de soberba em relação a clientes e pisteiros. Escreve-se como se quem nunca falhasse, ferisse e fugisse em situações de perigo, aonde clientes e pisteiros fazem o ridículo, fossemos só nós e sobrando em tais ocasiões.

Quando me iniciava como profissional em Angola, testemunhei um dos caçadores profissionais que trabalhava para o meu pai, chegar pela noite ao acampamento do Luengue e rindo-se contou-nos que como castigo, tinha deixado enterrado no mato um dos profissionais da concorrência, acompanhado do seu cliente e que aparentemente tinham estado a fustigar na área do Luengue.
A cada palavra José Simões empalidecia e não era por estar a ouvir contar que alguém lhe fustigava a área, pois quando o seu empregado acabou de contar toda a história, ele ordenou-lhe: “Você vai sair agora mesmo ao encontro dessa gente, pedir-lhes perdão pela sua atitude, levar o cliente que lá estava até ao seu acampamento e de regresso desenterra o carro do seu colega e eu encarregar-me-ei oportunamente de participar sobre essa gente á veterinária.
Só quem conheceu as horas que se levavam para viajar do nosso acampamento ao deles por aquelas picadas de areia solta, é que pode imaginar como terá sido que o J. Simões persuadiu o seu empregado a cumprir tal ordem.
Isto é um exemplo da ética de que estou a falar.
O cliente que estava a caçar com a concorrência, não tinha porque saber no terreno, aonde começava ou acabava a área que contratou, pelo contrário, para se comportar como pessoa de fácil convívio e de bom caçador, deve deixar-se levar pelo seu profissional.
Este último sim devia de saber muito bem aonde estavam a caçar e deveria pelo menos ser repreendido, mas para J. Simões estava como protegido temporariamente pela imunidade do seu cliente, que ninguém com ética deve responsabilizá-lo e enviá-lo sozinho de volta ao seu acampamento, nem que seja só por amor de Deus ao turista.
Quantas vezes ainda hoje no mato, dois profissionais que não esperavam encontrarem-se um com o outro, mas encontram-se e arruínam a viagem toda dos seus despectivos clientes, por falta de ética desta natureza?
Outro grande exemplo de falta de ética, para o qual as associações para a ética na caça pouco lhes importam, é o que num livro de caça seja escrito, independentemente de ser verdade ou mentira, mesmo quando os autores são caçadores guias profissionais, permitindo dessa maneira que o leitor, por vezes um jovem que quer ouvir falar de caça através da voz da experiencia, seja negativamente impressionado sobre a própria ética que tanto se predica necessária.

Recentemente um afamado caçador profissional, que é membro de todos os tipos desses clubes e associações de caça internacional, editou um livro que deveria ser uma tradução em Castelhano (espanhol) doutro livro que só estava editado em Inglês e escrito pelo próprio e legendário caçador de elefantes “James Sutherland”, mas aonde o dito profissional escreveu também quase tanto sobre as suas memórias como a própria tradução feita ao livro do legendário caçador. Um desses novos produtos que se paga por um e se levam dois.
Como leio muito pouco sobre histórias de caça, fui apresentado a tal livro por outro caçador amigo que me comentou aspetos da sua última leitura cinegética, talvez só pelo facto de ter lido, que James Sutherland caçou essencialmente no Sudão, aonde o meu amigo sabia, que eu também tive o privilégio de ter estado a caçar profissionalmente nesse maravilhoso País e algumas vezes, nas mesmas áreas que caçou Sutherland.

Como desafiado a ler certas partes desse livro, por quem me ouvia discordar rotundamente com certos ensinamentos desse caçador guia autor, que por sinal reclama ter mais anos de caça profissional que eu de vida, …li como insinua usando palavras de conforto e em nome da preservação da cultura, que violou um pequeno memorial que a James Sutherland os seus amigos mais chegados lhe construíram no Sudão, em memória de quem amou aquele lugar, aonde tão gloriosa vida gozou e que provavelmente lhes pediu que um dia o enterrasse por ali….Espanta-me o silêncio dessa gente das associações de Ética na Caça.

Povoação do MOBOI; Aonde sempre esteve a campa de Sutherland

Apoderar-se da placa dedicatória em bronze que ornamentava esse memorial, mesmo que fosse para a salvar da floresta que já quase a tinha tragado, como nos conta esse autor, não passa de um ato de pirataria que viola todas as normas da minha noção de ética, pois se esse senhor pensa que essa placa dedicatória dos amigos de Sutherland tem algum valor histórico no seu museu particular, imaginem quanto valor teria, se estivesse ainda no seu próprio sítio do Sudão em Tambura, aonde ele duvidosamente a viu em más horas, pois eu, que durante essa mesma altura levava alguns dos meus clientes caçadores a ver essa mesmíssima tumba de James Sutherland nunca a vi ser devorada pela selva, como esse caçador autor nos narra, como para justificar o roubo.

Numa das fotos que exponho dessa campa, pode-se ver uma das pequenas casas que compõem a missão católica de Moboi em Tambura.

Se isto não tem nada que ver com ética na caça, tem pelo menos que ver com ela na vida!
 

O mesmo autor também escreve frequentemente outros artigos sobre a imbecilidade dos seus colegas, que fazem os seus clientes caçadores acreditarem que há animais que carregam, ou dos seus presunçosos clientes que só querem matar um leão para se mostrar numa foto, ou dum colega francês, que acabamos por não saber quem é, porque o autor só nos diz que é um dos seus aprendizes de caçador profissional, que levando um cliente do autor a caçar um Búfalo, com uma arma que nunca tinha sido limpa na vida e entre todos, pelos visto matou-se o Búfalo 2000 do autor, que nos pormenoriza que se encontrava a uns cem metros atrás dos outros dois (o francês e o cliente) por se acaso as coisas corriam mal, ele dali as corrigiria, etc., etc., …sobrando-lhe tempo para também nos explicar, como alguém com setenta anos como ele pode ter pele de jovem, com só esfregar-se todo em óleo de coco pela noite….E contudo ser altamente considerado pelas associações a que pertence.
Fiquei curioso em saber quem a nós caçadores guias profissionais nos esfregarão as costas pela noite com tais produtos que nos podem prolongar a juventude!?

Ter ou não ter ética a caçar, é tudo isto e algo mais do que só querer saber se atiras dum carro ou a cem metros de distância dele.
Geralmente, admiramos os nossos pisteiros como verdadeiros caçadores, porque o são realmente, mas só Deus sabe como eles caçam e matam, não possuindo armas de fogo… “Belo e Selvagem”.
Belo…. Porque são verdadeiros conhecedores da natureza que os rodeia…conservacionistas natos, já que ainda há muita caça nas suas áreas… e Selvagens porque matando nos podem chocar com alguns dos seus métodos, mas matar é matar e na caça não há um método melhor que outros para se poder generalizar.
Alguém disse e muito bem, que Caçar não é matar, mas o caçador mata para provar a ele mesmo que esteve a caçar… que conseguiu caçar.

 

Falando de Ética na hora de matar, só se pode pedir que cada um mate da melhor forma que poder, considerando cada uma das tão diferentes circunstâncias da caça e de resto, ter Ética na Caça, é muito mais do que só querer saber desde onde mataste a caça….
Concordamos todos que deve haver alta ética na Caça e até mesmo quando se escreve sobre Ela, como se filma sobre Ela, ou como se predica sobre Ela…

É na vida que as pessoas exercem a sua Ética e a levam para a Caça.

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