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NÃO TOQUES NOS ÍDOLOS
O DOURADO FICA-TE NAS MÃOS
PARTE I
Um dia li esta máxima numa “Seleção do Reader Digest” e apesar de gostar dela, não sei até que ponto será assim, pois por vezes tenho testemunhado gente de baixo calibre tocar em ídolos e assim tornarem-se importantes de um dia para o outro, em alguns casos até chegarem à presidência dos seus Países.
José Simões faleceu antes de ter sido tocado por certos escritos em um pare de livros … de caça africana? … Editados por autores de expressão portuguesa e como sou seu filho e diz-se que quem cala consente, senti-me no dever de adicionar este artigo, para esclarecer o que esse par de presumíveis caçadores profissionais escreveram sem escrúpulos, sobre tal personalidade.
Começo com um tal Hugo Seia, que mente e difama num livro que editou há já alguns anos e que se não foi só por fantasiar um drama da sua vida, terá sido para crescer, como alguns fazem o que já disse antes, tocando naquele que pode muito bem ser considerado, a pessoa que mais deu a conhecer ao mundo da Caça, uma vez que no Mundo da Caça Africana os portugueses sempre tiveram o devido direito de veto.
Para escrever este capítulo, foi bastante com ler quatro páginas desse seu livro, que me foram casualmente enviadas por fax, por um caçador cliente, que se tornou amigo durante o safari que me contratou e talvez por entender, que o conto do Sr. Seia não batia certo, pois não seria eu filho do monstro que o Sr. Seia pintou.
O Sr. Seia, que por sinal também é artista pintor, mostra sofrer de amnésia aguda, talvez por tanto medo que padeceu quando da sua fuga de Angola, tal como nos conta e da mesma forma, que já se viu numa das telenovelas brasileiras que proliferam na nossa televisão, na história de alguém ficar cego em segundos, quando apanha o seu amor nos braços doutro.
É o próprio Sr. Seia que nos conta com lágrimas de crocodilo, que se largou a fugir encoberto pela noite do acampamento do “Kalonga”, a corta mato com a sua querida família, sem avisar os seus queridos colegas, dos perigos que corria em ficar e que o seu pisteiro o alertou.
Talvez porque a guerra das nossas colónias era apenas contra a administração portuguesa, da qual o Sr. Seia fazia parte até um par de anos antes da sua fuga. Por outras palavras e no melhor das hipóteses, só ele teria problemas quando a UNITA visitasse o acampamento do “Kalonga”, aonde com ele também se encontravam o Carlos Fortunato, o Adriano Seabra e os irmãos Ferreira, estes últimos, que ele nos conta já estarem no Rundo, (pequena cidade do Sudoeste Africano, situada na fronteira com Angola) nessas quatro páginas cheias de mentiras.
Quase um mês depois da sua fuga, eu fazia parte de um comboio de carros, que saía do acampamento do “Luengue”, via “Kalonga”, para o Sudoeste Africano, que era encabeçado por José Simões, patrão que se juntou aos seus empregados e aos quatro mais da “Angola Safaris”, que se sentiam abandonados pelo seu patrão Hernâni Espinha e traídos pelo seu colega Sr. Seia; …o comboio compunha-se dos seus quatro colegas (Fortunato, Seabra e os irmãos Ferreira) acompanhados das suas senhoras, com exceção do Seabra e mais cinco moçambicanos e não dois como ele também nos canta, como se dum tipo especial de maus portugueses se tratasse, os Srs. Armando Borges, Luís Mena, Manuel Figueira, José Simões (meu pai) e eu.
Chorando diz-nos “…. Para trás ficava a nossa Terra, o País que nos vira nascer, donde fugíamos como foras de lei, valendo-nos das trevas da noite e da mentira para atingirmos os nossos fins.”
Bem, isto parece-me a única verdade que diz nessas quatro páginas; que fugia como um fora de lei e que mente para atingir os seus fins!
Voltando ao tema da amnésia de que ele parece sofrer, ou o Sr. Seia esqueceu-se que na página anterior nos conta, que quando os tempos pioraram, ele foi matando Elefantes e Rinocerontes para posteriormente negociar com esse marfim e cornos, que obviamente eram ilegais, já que só poderia ter caçado legalmente dois elefantes como residente (se os tivesse pagos) e não deveria ter tocado em nenhum rinoceronte, ou é daqueles que não vê, que se fôssemos todos como ele, dos que se aproveitam da confusão para transformar as leis em batatas, tinham morrido muito mais pessoas que as centenas que ele nos diz que morriam, como causa e durante a altura da sua fuga, pressupostamente com o jeep carregado com algo mais, que água, comida e combustível…. E só por sorte, tudo finalmente lhe correu bem, pois foi capturado pelo comandante e seu pelotão, o mais estúpido da UNITA, já que foram na infantil conversa da fingida doença da sua senhora, que com ele e as suas duas filhas, passaram três dias nesse acampamento da UNITA à espera desse supostamente estúpido comandante que estava ausente, nunca percebendo que a Maria Alice só fazia teatro.
Continua contando-nos que foi à sua chegada ao Rundo, que se encontrou com os irmãos Ferreira, José Fitas, um tal Pedro Milho” que não chorava o passado, não odiava o presente e não temia o futuro” como ele o pinta e com estes, mais dois moçambicanos que também vinham a fugir de Angola; o José Simões e o Manuel Figueira.
Com isso, só mostra que ele deveria estar metido em altos voos, se não me viu também a mim, o Luís Mena e o Armando Borges pela primeira vez no pontão de “Bangani” e não no Rundo como diz, e acompanhava-nos os irmãos Ferreira, C. Fortunato e Seabra.
Esse José Simões que ele nos esclarece que também tinha fugido de Angola e que “ de acordo com os militares e polícias sul-africanos estacionados no Rundo tornou-se no elo de ligação entre os refugiados e as autoridades locais, com base no Rundo ia todos os dias ao Calai, …etc., etc. …. Onde os refugiados se amontoavam, sem condições, dormindo nos seus próprios carros, vivendo do que os seus poucos e parcos haveres lhes rendiam em negócios pouco lucrativos, de que os sul-africanos se aproveitavam e o José Simões também,” merece algum reparo!!.
Eu digo com conhecimento de causa, que de modo algum o Sr. Simões fugia de Angola, como tinha feito o Sr. Seia.
Quando o Sr. Simões fugia, fazia-o de dia por estradas e picadas de Angola, ao contrário do Sr. Seia encoberto pela noite e a corta-mato; José Simões, como já foi dito, encabeçava uma coluna de onze viaturas formada pelos seus empregados e os da Angola Safaris, que tinham sido deixados aos crocodilos e à socapa por ele, Sr. Seia, como sem pudor nos conta, que só o seu pisteiro sabia do plano de fuga para depois do jantar, tal e qual como Judas, deixando os seus colegas provavelmente pensarem que ele estaria a estacionar o seu carro.
Quando José Simões chegou ao Rundo sem ter que mentir a ninguém, conseguiu ficar a viver o tempo todo que necessitou de estar naquele lugar do Planeta, numa pensão governamental com todos os seus empregados e efetivamente ia todos os dias ao Calai (em Angola), primeiro porque não estava no Sudoeste Africano fugido de Angola e segundo para cuidar e fazer com que os empregados da Angola Safaris, colegas do Sr. Seia e algumas centenas mais de refugiados, fossem tratados com dignidade até ao dia de poderem partir para Portugal, já que estamos a falar de gente de cor, que sofria a descriminação governamental daquela época.
Até os seus bilhetes de avião e os hotéis de alguns deles em Portugal durante a transição de Angola para o Sudão, foram pagos pelo Simões e não pelo seu patrão, o Hernâni Espinha, que possivelmente ainda não tinha conseguido vender os diamantes que o Sr. Seia menciona.
Posteriormente, quando sul-africanos e refugiados angolanos se aperceberam que o Sr. Simões sabia tocar piano e falar inglês, fizeram dele o elo de que o Sr. Seia nos conta, mas será justo acrescentar, que não lhe pagavam nada por isso e não cabia portanto ao Sr. Simões regatear o preço das coisas que os angolanos queriam vender à pressa aos sul-africanos.
Por sinal, haverá centenas de pessoas por este Mundo que passaram por esse inferno do Calai/Rundo e que bendizem um tal Simões, que não lhes sendo nada, lhes ofereceu tanta simpatia, conforto e amabilidades.
Continua a contar-nos o Sr. Seia, que uns dias após a sua chegada ao Rundo, um carro da polícia sul-africana o veio procurar para o forçar a voltar a Angola, para ir buscar e assim salvaguardar, o marfim dos caçadores clientes da Angola Safaris, que se encontravam no acampamento do Kalonga. Continua dizendo, que tentou resistir-lhes porque sabia através da comunicação de rádio que mantinha frequentemente com o escritório da companhia, que a Angola Safaris estava a fazer diligências no sentido de salvar todos os troféus deixados em Angola e que supostamente seriam trazidos de Angola para o Rundo, pelo Fortunato e Seabra.
A mim, espanta-me a ideia da tão atarefada polícia sul-africana estar durante aquela época, tão preocupada em salvar troféus de caça da Angola Safaris ao ponto de o ter ameaçado com atirá-lo novamente para Angola, se ele não colaborasse nessa operação de resgate de marfim, acompanhado pelo velhaco do Pedro Milho e do José Fitas.
Não terá o Sr. Seia sofrido uma vez mais da sua amnésia e não se recorda que a polícia só lhe falou assim, por falta de respeito a quem veio a fugir do seu próprio País a corta-mato traficando com o já mencionado marfim e cornos de rinoceronte, obviamente ilegais?
Não se terá ele esquecido também de nos contar, que esse Pedro Milho que não chorava o passado, não odiava o presente, nem temia o futuro, tinha sido um dos seus comparsas de furtivo nessas caçadas ilegais aos Elefantes e Rinocerontes?
Bem, deixemos este marfim e voltemos ao marfim dos clientes da Angola Safaris, que ele estava convencido que viriam com o Fortunato e Seabra.
Tanto quanto sei sobre as diligencias tomadas pela Angola Safaris no sentido de salvar todos os troféus dos seus clientes desse 1975 deixados no Kalonga, foi José Simões, que praticando em minha opinião, a única aceitável desmedida durante a sua saída de Angola, contratou um pare de matões para irem a Sá de Bandeira e não ao Kalonga, buscar a bem ou a mal todos os troféus, incluindo os de marfim, quer fossem da “Safari”, a companhia que ele mesmo representava, ou da “Angola Safaris”, os quais posteriormente foram enviados integralmente por José Simões aos seus respectivos donos, contra a forte oposição do Hernâni Espinha, que opinava não ter que aceitar obrigações ou éticas dessa natureza, para com os clientes da sua companhia, tendo em conta o facto do País se encontrar em estado de guerra.
Este episódio foi o grande desencontro que houve entre José Simões e o Hernâni Espinha e que deterioraria fatalmente a futura união das suas respectivas companhias, maneira como tinham os dois planeado entrar no Sudão, contra tudo e todos que já lá estivessem.
Sobre o resto da história que ele nos conta, de como se encontrou no meio do mato com o Fortunato e o Seabra, que vinham carregados com o marfim da Angola Safaris e escoltados por tropa sul-africana, é a última grande mentira que li nessas quatro páginas do seu livro (págs. 124/127), porque tais senhores viajavam com o grupo das onze viaturas encabeçadas por J. Simões como já mencionei e sem marfins nos carros, que efetivamente já perto do Sudoeste Africano (hoje Namíbia) foi intercetado por uma patrulha militar Sul-africana, mas com certeza distinta da que nos relata o Sr. Seia, pois compunha-se de dois “Unimog” e não de um “Toyota”, que nos ofereceu proteção até terras de “Bóer” apenas com fins de solidariedade e não para proteger ou roubar qualquer tipo de tráfico de marfim, como no caso do relato do Sr. Seia, que menciona terem aparecido pelo meio helicópteros de não sei donde para onde!
A Sra. Simões com a escolta de Flechas que nos intercetaram e que viajavam em 2 Unimog sul-africanos.
Quiçá e devido à sua amnésia, isso que nos explica da expedição á força com o J. Fitas e o P. Milho talvez sim, tenha acabado com helicópteros etc. … Mas terá sido outra sem Fortunato e Seabra pelo meio.
Parece-me mais lógico, que o primo dos “bóeres” (o P. Milho) tenha ido com a sua “troop” por aquilo que considerava ser a sua fatia das grandes caçadas ilegais aos Elefantes e Rinos e por isso forçarem-no a ir resgatar tais produtos.
Se assim foi, a história acabou como o sábio ditado do povo diz: Quem tudo quer tudo perde! E tudo o helicóptero levou, mas não foram seguramente os troféus da Angola Safaris.
NOTAS DE CURIOSIDADE
Raramente tenho visto o Sr. Seia desde aquele dia que o conheci no pontão do Bangani, mas se não me falha a memória, ele terá sido o único caçador profissional angolano, que saiu do Sudão quase ao mesmo tempo que entrou e foi trabalhar durante muitos anos mais para os “bóeres”, que ele diz terem andado a roubar infamemente os pobres angolanos.
Sete ou oito anos mais tarde desta desgraça toda, saberá Deus como, o Sr. Seia conseguiu vender o seu único safari para o Sudão e adivinhem a quem ele o confiou? À companhia de caça de José Simões.
Apenas uma curiosidade mais: a constelação do “Cruzeiro do Sul” é composta por cinco estrelas e não quatro, como o nome possa sugerir e até enganar qualquer experimentado caçador profissional!
PARTE- II
Outro presumível caçador profissional português, um tal Adelino Serras Pires, que mais recentemente também escreveu um livro, que não consigo definir se é de caça, de política, ou do drama e pesadelos da sua vida, também não conseguiu ignorar José Simões para se poder localizar, engrandecer, ou desculpar-se.
Contudo, se de José Simões ele só nos conta, que quando a guerrilha em Moçambique lhe queimou o acampamento do “Pompué”, matou-lhe um ilustre cliente e feriu outros dois, também queimaram um acampamento de José Simões, mostra bem que não sabe o que diz, ou não diz o que sabe, pois o acampamento da “Mazamba” na zona de “Inhaminga” ao qual ele se refere, sem lhe dar nome nem posição, pertencia ao caçador profissional moçambicano, que posteriormente lhe daria emprego em Angola, o Sr. Victor Cabral e não ao Sr. Simões.
O que é curioso e comum entre estes dois autores-caçadores, que nos contam fatalidades das suas vidas, é tentarem convencer o leitor que a José Simões lhe passou o mesmo, como se assim dizer-nos que tais desgraças eram inevitáveis.
São gente tão apoderada de ódio, inveja e prepotências, que enquanto por um lado nos querem fazer crer, que se a José Simões lhe passou o mesmo, a situação não tinha outro remédio, por outro insinuam que, esse Simões sim, merecia passá-las; mas por razões obscuras, ambos também se esqueceram ou preferiram esquecer-se de explicar ao leitor que não sabe, quem foi realmente esse J. Simões, que em ambos livros só ocupa um pequeno parágrafo entre os seus pesadelos e que em minha opinião, podiam ter evitado tocar dessa maneira, nesse que foi e ainda é um ídolo para muita gente.
Para não me estender muito a rebater uma quantidade de licitudes desse livro cheio de avoco, só quero exclamar sobre a parte da caça que ele governou e mais me impressionou, foi saber que algum dos nossos melhores profissionais de safaris, como ele se auto considera, só conseguiram administrar as maiores e melhores companhias de caça em África durante apenas um par de anos!
Se eu fosse músico compunha uma canção com o título: …nem uma peixeira de Portugal se compara a um caçador profissional…
Depois de todo este lavar de roupa suja, será interessante elucidar os leitores, que José Joaquim Simões foi a primeira licença oficial de Caçador Guia Profissional em todo o que foi o Território Português.
Foi o único profissional de caça português, que ostentou uma caderneta profissional com o estatuto de Caçador Guia Chefe, nominação especial criada pelo Governo da Província de Moçambique, como para definir singularmente o seu estatuto e entre outras centenas de coisas, de que eu como filho me orgulho dele, foi também até hoje o único Português premiado pela “Olin Mathison Chemical Corporation” e a marca gigante das armas “Winchester” em 1961, que lhe concedeu a sua mais alta distinção, devido aos méritos obtidos no desenvolvimento e proteção da fauna em África, considerando-o por isso como o melhor ativista pró caça Turismo e Conservação desse ano no Continente, razão pela qual lhe ofereceram uma arma que acabavam de inventar de calibre 264 Winchester Magnum, devidamente outorgada pela marca em uma placa de prata que lhe embelezava a coronha e reconhecida como a melhor, entre as primeiras mil produzidas…. E eu digo: se a Winchester soubesse o uso que ele lhe deu, obviamente lhe ofereciam outra.
Ainda hoje, quase todos os caçadores clientes espanhóis que caçaram com ele durante os anos 60 usam a 264 Win. Mag. como sua “Menina”, como José Simões a denominou, entre a sua bateria de armas.
Em 1984 voltava a ser o único organizador de safaris português e até hoje, homenageado “Outfitter do Ano” pelo maior clube de caça do Mundo, o ”Safari Club International”, por tudo que até aí tinha feito pela Caça Turismo, Caçadores e Conservação.
Como mínimo, estes quatro predicados de José Simões deveriam de passar de boca em boca entre nós caçadores profissionais portugueses, para também minimamente entendermos sobre as nossas raízes no Mundo dos safaris de África.
Se ele nos tivesse deixado escritos, eu adorava saber o que fez ele pelas Américas, para que um primo do Presidente Johnson dos Estados Unidos o tivesse nomeado “Xerife” honorário de Santo António em Texas …e como não sei, pergunto, se houve algum outro português que o tenha sido, também!?

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