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OS BONS VELHOS TEMPOS

O que é que nos faz realmente pensar que antes foi melhor?
Haveria mais animais do que há hoje? Caçar quando, quanto, como e aonde se quisesse? Pagar nada ou quase nada por caçar? Caçar menos condicionados por leis e éticas de caça?
  Caça quase ilimitada numa Chevi só com tração traseira
Talvez vivamos uma nostalgia criada por nós mesmos, quando lemos esses livros de caça escritos a princípios do século passado, porque somos simplesmente exagerados como caçadores.
Eles escreviam romanticamente sobre as suas novas experiências, próprio duma geração que se dedicou a explorar o Planeta e nós ainda por cima os exageramos.

É um facto, que todas aquelas boas áreas de caça que os pioneiros caçadores tão bem nos descreveram, terem ainda hoje muita caça conservada, quer sob a direção de “Outfitters” de primeira linha, quer por se terem tornado em Parques Nacionais.
Mais ainda, hoje contamos com muitas outras que antes não puderam ser exploradas por falta de logística, ou diversidade de tipos de caçadores e também têm tanta caça, ou mais, que as primeiras mencionadas.
Apareceram os colecionadores, tornámo-nos mais seletivos e todavia batemos recordes do mundo.

Elefante de 151/149 lbs caçado por Elsa e Carlos Faria em Sakuré-Sudão.

Somos nós e não eles, que dizemos que cada um deles deve ter morto milhares de Elefantes, Búfalos, Leões, etc. …, Mas se assim fosse já não os haveria, como ainda vemos e caçamos por sabermos que não os extinguiremos, ao contrário do que cada um desses pioneiros nos preveniu, sobre a sua eminente extinção em uma dúzia de anos depois deles.

Com certeza que de algumas espécies de animais, esses pioneiros, que comercializaram a caça, terão caçado individualmente muito mais do que nós, ou pelo menos, demasiadamente para as normas atuais, porque por um lado viviam da venda dos seus produtos e por outro não os pagavam.
Umas vezes seriam chamados para caçarem uma família de leões que se tinha habituado a matar gente, outras vezes seria um grupo de elefantes que destruía campos de agricultura e nalguns casos mais raros eram contratados para matar búfalos e Hipopótamos para subsistência de centos de trabalhadores que construíam os primeiros caminho-de-ferro, ou outras obras grandiosas que exigiam grande mão-de-obra… mas em nenhum dos casos isso chegou a ser aos milhares, como nos leva a crer a nossa exagerada imaginação.

Em Moçambique, pouco depois da sua independência, decorreu uma dessas operações de abate de Búfalos ordenada pelo Presidente Samora Machel, para se alimentarem populações inteiras.
Foram contratados quatro caçadores profissionais (o Francisco Coimbra, Armindo Vieira, Vergílio Garcia e Jack Silva) para abaterem dez mil Búfalos durante os anos de 1979 e 1980.
Dispondo de todos os” jeeps” e camiões necessários, mais de cem empregados especializados e todas as armas e munições que tinham sido deixadas em Moçambique por todos aqueles milhares de portugueses que abandonaram o País por altura da sua independência, a operação Búfalo como foi denominada, teria abortado se por fim não tivessem recorrido ao uso de helicópteros para tal fim.
Digo isto para se entender bem, que tal logística nunca foi usada anteriormente, porque nunca houve abates aos milhares sob qualquer pretexto e mesmo neste caso de Moçambique, eu duvido que se tenha concluído metade de tais cifras.

Hoje temos meios de transporte perfeitos, comunicações irreprimíveis, boas armas e munições para todos os gostos, “catering” perfeitamente adaptados para ambos acampamentos móveis ou fixos, G.P.S, visão noturna, etc., e sem dúvida em muitos casos também melhores concessões de caça, só que nos queremos convencer do contrário.

Nem que só fosse por respeito a esses pioneiros da comercialização da caça em África, talvez os únicos considerados verdadeiros matadores, deveríamos de reconsiderar o que já foi exageradamente dito deles, que em minha opinião só degrada os seus estilos como grandes caçadores.

Comecemos por considerar que havia dois tipos desses caçadores: o de troféus (marfim) e o de carne.
É inconcebível pensar de quem caçava marfim, que conseguiu milhares de elefantes em tão curto espaço de tempo da sua vida de profissional como tal, pois lendo o que nos deixaram escrito, nota-se que nenhum caçou quer por marfim ou carne durante mais de dez anos.
É fazer contas e ver que para se matar mil elefantes em dez anos, há que matar por média de cem por ano…e eu pergunto-me se alguém viu alguma fotografia desses magos da caça, com cem pares de colmilhos de elefantes. Contudo já existia a fotografia e eles orgulhavam-se, como nós ainda hoje, de as mostrar!
Mais considerando e como negócio das suas vidas, compravam tudo o que podiam aos caçadores nativos e nem assim aparecem tais fotografias dos finais de cada época de caça.

Sobre quem vendia carne, idem aspas, aspas. Nem caçavam cem por ano, porque não lhes era permitido pelos Governos, nem nunca caçavam só eles, mas sim um conjunto de caçadores nativos treinados por eles, que usavam as suas armas e munições, coisa que sempre lhes foi limitada por falta de poder económico com que a maior parte deles se confrontava.
Gastamos toneladas de papel e tinta para tão dificilmente conseguirmos explicar a quem não gosta da caça, o porquê que ainda caçamos e devemos continuar a fazê-lo, pelo simples facto de termos começado por contar-lhes que aqueles valentes caçadores que tanto admiramos e veneramos, foram realmente grandes sanguinários matadores. Mil são muitos, mesmo que só sejam Ratos.
Depois continuamos dizendo-lhes que estamos convencidos que então havia mais animais que agora…será mesmo assim?

Produto de uma manhã de caça em Gemmeiza-Sudão (Note-se que foram caçados como troféus e não carne)

Ter-lhes sido mais fácil caçar, porque os animais viviam mais perto dos homens, não significa necessariamente que havia mais animais, porque em situações de caça fácil, pesa também bastante outros elementos, do que só ser o caso, por ter havido mais caça aonde isso aconteceu e ainda hoje acontece! Até pelo simples facto de se caçar algures, aonde os animais ainda não conheçam as armas de fogo modernas e que ainda os há, também pesa.

Hoje somos muitos milhares de caçadores e com certeza matamos muito mais animais por ano, do que esses pioneiros poderiam sequer imaginar ser possível tal desgaste e já lá vão cem anos!
Se aceitarmos que hoje é mais difícil caçar que ontem, não nos equivoquemos com números. A meu ver só existem mais leis e éticas modernas de caça, nem sempre equilibradas, que sim, tornam a caça mais difícil e menos romântica, para não dizer que também os animais vão aprendendo a proteger-se contra as novas ameaças. Nenhum animal que ainda vive neste novo milénio que acabamos de entrar está cá por sorte! 

“Os bons velhos tempos” eram bons e possivelmente mais românticos por não existirem tantas leis e éticas desmedidas para cumprir, como já dito.
O caçador era a lei e por isso nunca faltou caça. Como um ganadeiro que ama e mata as suas vacas, o caçador também mata, mas ama a caça…
É absolutamente necessário caçar para conservar e hoje caçando-se mais e pressupostamente melhor, também se conserva mais e melhor.

Hoje e não ontem, é que vivemos os tempos dourados da caça, podendo desfrutar em sete e catorze dias o que apenas há trinta anos, se conseguia em trinta dias, por toda essa melhor logística de que dispomos, áreas de caça e até os nossos conhecimentos sobre a natureza e métodos de caça.

Bongo nº1 caçado por Luís Pedro de Sá e Melo em Sakuré-Sudão

Mal de nós caçadores, se depois de cem anos de alta literatura cinegética, informação documental e com todas essas novas utilidades aplicadas na caça, como G.P.S., demarcações e reconhecimentos aéreos das áreas, rádio comunicação móvel, telefone por satélite, visão noturna e mais o que se queira comparar, ainda não caçamos mais e melhor que os tais legendários pioneiros!

Duri e Manuel Simões com a Sitatunga de Floresta nº1, caçada em Sakuré-Sudão

Eles foram campeões e ninguém lhes deve tocar no dourado, mas como em tudo, outros melhores sempre aparecerão.

Ainda se batem recordes do Mundo, fazem-se os safaris à medida e velocidade que o caçador deseje e querendo, poderá estar diariamente em contacto com o resto do Mundo; nunca nos perdemos nem perdemos a memória dalgum sítio especial da caçada, tão perfeitos são os G.P.S. que nos cabem num bolso da camisa; com o que há de bons repelentes de insetos e antialérgicos, tornam-se divinas as excursões aos pântanos; em conclusão, dá muito mais gozo caçar…isto é que é o “El Dourado”.

QUE BONS NOVOS TEMPOS!

 

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