SAFARI E O PREÇO JUSTO
“SAFARI “
Entende-se hoje que um safari é uma viajem de caça a um país estranho ao do caçador que o irá fazer.
Esta palavra nasceu da original indiana, “Shikari”, que significa apenas, expedição de caça, pois o caçador indiano organizava estes Shikari (s) no seu próprio País.
Aparentemente só aparece a palavra “Safari” depois do presidente norte-americano Teodoro Roosevelt ter feito uma prolongada caçaria em África, nomeadamente no Kénia, aonde também se organizaram os primeiros safaris de África.
Depois disso, tornou-se moda, para todos aqueles que provavelmente já eram caçadores e apoderados, quererem experimentar caçar algo mais do que só aquilo que podiam caçar atrás das suas casas.
Pode soar um pouco a nostalgia, a modos dos bons velhos tempos da caça, mas infelizmente não é só isso! A palavra “safari” está agora a desviar-se do seu significado original, de quando se começou a organizar “Shikaris” em qualquer lado e para todos que quisessem e pudessem claro pagar por luxos como os do Presidente.
Era gente que se interessava mais por estar por África caçando, do que para caçar em particular alguma que fosse a espécie de animal, como o são em geral nos dias de hoje.
Pediam aos primeiros Safari Outfitters que lhes organizassem tais expedições, o Safari… longos e para caçar todas as espécies de animais que as zonas por onde passariam pudessem oferecer.
Felizmente ainda hoje existe esse tipo de caçador e eu considero-me afortunado por alguns deles virem de safari comigo. Gente que também quer ter tempo para ouvir tambores indígenas, curtir a fogueira do acampamento, apreciar uma Lua à meia-noite e ouvir histórias que formam o folclore das tribos da gente que visitam.
Talvez os primeiros a desfrutarem da internacionalização da caça por “Safari” e quem nos poderiam revelar experiencias interessantíssimas das suas viagens, daquelas que em geral, quem caça para competir nunca chega a experimentar durante os seus curtos safaris, dum lado para o outro do Mundo, para lhes dar tempo de coleccionar de todas as espécies.
Gente que usava a caça como veículo para viajar a sítios que sem Ela, não haveria muito que fazer neles, algumas vezes maravilhosos jardins do Planeta. Por certo, há mais de sete dessas maravilhas das que nos falam e este modo de estar na caça (safari) abre as portas a algumas dessas maravilhas.
Posteriormente e quase ao mesmo tempo, aparece um tipo de grandes caçadores coleccionistas da Fauna Internacional, que hoje são com certeza tão famosos ou mais, que os famosos legendários caçadores africanos e por nada mais que reconhecer, que também esses caçaram intensamente e a top.
Por onde deve ter andado e experimentado caçadores como Herb Klein, Elgin Gates, McElroy, James Melon, etc. … Ou até mesmo os campeões dos mais recentes prémios internacionais, durante certas convenções de caça, os homens do ano!?
Terão caçado provavelmente mais em todos os aspectos, que os legendários e famosos caçadores dos bons velhos tempos de África.
Alguns deles sustentam as mais completas colecções das diferentes espécies mais representativas da Fauna do nosso Planeta e isso tem peso. A meu ver, o que mais pesa.
Não teria havido grandes caçadores guias profissionais em África, se não tivesse havido esse tipo de grandes caçadores internacionais ao mesmo tempo.
Outro tipo de caçador é o que só caça pelo sentir da adrenalina na caça e portanto só quer caçar certas espécies de animais que lhes provocam tais experiencias, quer sejam os perigosos Búfalos, ou os difíceis Rebecos ou veados em montarias.
Estes também podem chegar a ter conhecimentos mais profundos ou importantes que os próprios profissionais, pois durante as suas andanças pela caça, foram contratando guias profissionais de todas as íngremes e credos, dos quais aprendem e desaprendem, até formularem os seus próprios e pesados conhecimentos, sobre cada uma das espécies que os atrai.
Como estes tipos de diferentes caçadores que acabo de comentar, existem dezenas mais, se não centenas doutros tipos, que à sua maneira e por motivos diferentes praticam como “hobby” a caça por safari, os quais também teriam por direito, um veto na caça, se estivéssemos a falar em formar um parlamento internacional de caça, aonde eles seriam Ministros nele, para a regular quer a nível regional, nacional ou internacional.
Claro que também há caçadores indesejados que fazem safaris, mas o que para o texto importa falar é do que pode então chegar a ser um safari, como algo e com que garantia?
Devo opinar humildemente sobre o que prefiro que seja um safari, quando os recebo a caçar como clientes, pois tais caçadores, uma vez mais, poderiam-nos falar disso com certos conhecimentos de causa, que nem eu como profissional posso predicar, pois são eles quem os compram e experimentam as diferentes batidas de adrenalina, em cada um dos pontos cardeais do globo.
Na verdade é que já somos bastantes os que caçam e por tantos motivos diferentes, que para não termos que inventar uma palavra moderna para substituir a não mui antiga “Safari”, temos que ter claro, até onde um safari pode chegar, para ainda sê-lo?
Haverá uma linha para demarcar alguma caça que já se pratica há dezenas de anos e a que também se chama “safari” e já se deveria de ter chamado outra coisa qualquer, nestes novos tempos de super definições de e a tudo.
A simples atitude dos futuros guias de caça profissional em África pode desequilibrar a balança, no que regula a essência da palavra “Safari”.
Pela parte que toca ao caçador-cliente, os safaris continuarão com certeza de boa saúde, pois cada vez haverá mais desses das pesadas colecções mundiais, os de gozar largadas de adrenalina, os de só gozar férias com a família e todos os outros e por todos motivos diferentes, que cada vez saberão mais por experiencia própria, do que nós profissionais, que não temos dinheiro para continuar a caçar.
Muitos de nós profissionais estamos ou queremos estar convencidos de que sabemos mais e sobre tudo de caça, do que eles, só porque sim! Custa-nos aceitar que alguém por “hobby” possa saber tanto ou mais sobre os animais e a caça, que nós profissionais, mas mais cedo que tarde, algum dia acabar-se-ão as histórias de caça, que a muitos profissionais ainda lhes encanta narrar, que o seu cliente foi quem falhou, feriu, fugiu, etc.
Nesse dia, como será um Safari?
PREÇO JUSTO
Hoje há para todos os bolsos e gostos, mas estarão justos?
Embora alguns estejam desajustados, claro que é justo que haja tantas diferenças.
Há umas áreas de caça melhores que outras, assim como companhias e profissionais, já sem mencionar as diferenças de logística operacional em cada País e até aos tipos de caça, pois até já há alguns tipos de caça que já deveríamos ter recebido outro nome, porque na verdade não é caça!
Talvez seja utopia focar este tema, mas penso que ao ritmo que vamos, todos acabarão perdendo se ninguém o fizer! … Estava a dizer, que há áreas tão boas, que mesmo caçando com maus profissionais os resultados da caçada serão bons e para se caçar nelas será caro, como num restaurante de boa comida também se paga caro, mesmo que o camareiro tenha servido mal.
E há bons profissionais, que em áreas menos boas, resultam tão bem ou melhor que os maus caçando nas melhores áreas e portanto o seu produto vale tanto como os dos que sustentam as melhores áreas, ou seja, será caro também.
Uns caçadores investem na compra da garantia de sucesso dos seus safaris através da melhor área e outros investem na profissionalidade do seu guia de caça. São gostos!
As melhores áreas terão maiores quotas de animais para abater e portanto venderão mais caça, mas isso não é razão para ser mais caro, como acontece em geral.
Ao caçador interessa-lhe saber, que se por uma área ser de primeira categoria pode vender o dobro dos safaris de outras, também suportará o dobro da pressão e perturbação da sua fauna.
Depois também temos de considerar que cada companhia oferece serviços diferentes, melhores ou piores, dependendo em grande parte da logística existente em cada país, ou não, pois até dentro do mesmo país há diferenças de serviços entre as companhias.
Baseada numa melhor infra-estrutura, estão a maior parte dos países que formam a África austral, como a África do Sul, Botswana, Namíbia, Zimbabwe, Zâmbia e mais recentemente Moçambique, onde entre os safaris mais caros, também se encontram os mais baratos de África, não me estando a referir aos efectuados em quintas de caça vedadas, aonde também não é sempre barata. Nessas quintas, mais que nos outros tipos de caça, joga-se com a especulação.
Considerando que todos factores mencionados influenciam os preços da caça em África, nada se compara á especulação! O Elefante, o Rinoceronte, ou o que quer que seja.
Proibir-se-á a sua caça? Entretanto quem os tem na sua quota de animais, tem uma mina. Hoje há entre esses países, quem cobre US$50.000 por alguém caçar um elefante ou um rinoceronte e até US$60.000 por um leão.
Antes da implantação regulamentar dos CITES (convenção internacional de comercio de espécies em extinção), um elefante no Sudão (1986) custava ao caçador US$ 300 a sua licença, mais uma taxa de abate de US$ 16/kg de marfim que tivesse o troféu. As diárias da companhia que os caçavam eram de US$ 750/dia, nesse País de logística nula.
Dizer isto agora, pode parecer estar-se a falar dos bons velhos tempos da caça em África, mas como a caça aí cerrou só por razões políticas, aposto que esses preços serão os que ainda figuram nas listas de preços governamentais, por se a caça se reabrisse hoje!
Nessa altura vendia-se tanto aos caçadores que o queriam caçar em 28 dias, como em sete ou dez dias, com leão e búfalo incluídos e acreditem ou não, haviam variadíssimos caçadores que os conseguiam todos e bem representativos.
Em Moçambique idem aspas, aspas; cerrando-se a caça há mais de um quarto de século atrás pela mesma razão que o Sudão e agora se reabrir e o governo estar a taxar praticamente ao mesmo preço que estava a caça quando cerrou.
Chamam cabritos ao Duiker, Oribi, Suni e todos os animalitos de porte similar e cobram US$ 30 por cada, ou leões a US$ 500, etc.
Desperdício? Ignorância? Será com certeza um pouco não saber quanto cobram os seus vizinhos pelo mesmo, mas também há que considerar que ainda hoje em geral, os salários dos operários em África são de US$ 50/mês.
A Caça como outra coisa qualquer, só prevalecerá enquanto for negócio auto-sustentável e menos mal que sempre gozou de liberalismo. Cada um autorizado a praticar os seus preços, desde que pague todas as taxas governamentais para se estar oficialmente autorizado a caçar.
Essas taxas em geral não são tão baratas como as dos dois exemplos dados (Sudão e Moçambique), mas não serão em nenhum caso o que torna os safaris em África comodidades caras, algumas vezes abusivas na minha humilde opinião.
Falar hoje do que é caro, será como de religião.
Acabamos de testemunhar que um milionário sul-africano que sentiu necessidade de ser o segundo homem a usar o primeiro transporte público espacial, pagar mais de 20 milhões de dólares para o ser e tão feliz durante três dias, sem quase poder mover-se, tirando com certeza as piores fotografias espaciais, comparadas às que já há do nosso Planeta, alimentando-se de comida geneticamente modificada, etc. … Todo um incómodo para o meu gosto… contudo alguém perguntará, se de facto terá saído caro esse incómodo grande voo?
Mesmo entre a gente do tipo deste sul-africano, que também os há na caça, já houve maior febre de caçar animais como o Rinoceronte, uma Chita, etc., do que aquela que há hoje e eu penso que é por se terem apercebido dessas especulações que provocou a subida desproporcionada dos seus preços.
O mesmo poderá passar brevemente com a caça do elefante ou até mesmo com a caça em geral, que estando a perder o seu romantismo e apartando-se enormemente das suas enraizadas tradições, deixará de valer tanto.
O que é caro é caro e serão menos a gozá-la.
Ainda há companhias que operam respeitavelmente bem nas áreas mais remotas de África e de logística nula por US$ 800/dia e outros fazem-no por US$ 2500/dia, mesmo quando apoiados por uma boa logística como no caso da Botswana, Tanzânia e agora até a Zâmbia com especulando o Leão.
Há também gente que em ranchos de caça vedados, taxam mais os seus clientes, do que essas companhias caras e de verdadeira caça, por animais que compram ao governo por preços muito inferiores aos aplicados às companhias de caça, caça.
Diz-se que dois erros não formam uma certa, mas aqui parece haver excepção á regra, pois há dois desajustes e parece a todos que está bem.
O rancheiro que vende especulação, convencendo os seus clientes que o que vende é garantido, de qualidade e também é caça e o governo que vende aos rancheiros animais vivos muito mais barato que os que vende para se caçar em áreas abertas aonde o animal se defende melhor, mostrando uma total indiferencia ao que possam esses rancheiros fazer ao animal vivo e só por ter aprendido equivocadamente, a considerar tais práticas (ranchos vedados), muito moderna conservação!?
Em alguns casos será chocante como o rancheiro ou o seu cliente o mata em nome da caça justa, ou o envia para outro país ou Continente, aonde os multiplicam e modificam geneticamente em nome da Conservação, para posteriormente serem usados de forma a competir com os próprios autóctones da mesma espécie.
A alguém lhe interessará que a caça se torne nisso, mas é desajustado!
O trabalhador africano recebe em geral menos que em outra parte qualquer e o combustível e catering por outro lado, é do mais barato.
Que gasta um caçador-cliente que vive num acampamento de caça e quer estar todo o dia fora a caçar?
Hoje por hoje, ainda não há nenhuma caçada em África que realmente valha US$ 2000/dia; isso é especulação!
Atitudes dessas na caça, só favorecem a quem não gosta dela.
Cada vez havendo mais donos de companhias de caça que têm uns tantos negócios mais e que portanto não têm porque vender os direitos de caça que adquiriram, os preços dos safaris em África se irão tornando cada vez mais desajustados, até que só um tipo de caçador o tolerará e esses talvez sejam piores que Reis, a quem uma vez se lhes tirou o monopólio da Caça.