CAÇADOR-GUIA PROFISSIONAL
Nesta página tento descrever como apareceu a profissão de Caçador-Guia e por onde e para onde vai. Quem antes eram os que decidiam sobre a Caça e sua Conservação, hoje são quem menos ordena e só porque tudo, hoje, é política.
CAÇADOR GUIA PROFISSIONAL
O estilo é o Homem e cada caçador guia tem o seu!
Quantas são as profissões que possam ser tão liberais como esta?
Cada um saberá como e porquê veio ele a caçar profissionalmente.
Eu, que me considero mais guia que caçador profissional, sou há 38 anos um produto bem diferente desses pioneiros da profissão.
Eles sim, foram realmente caçadores profissionais, porque caçavam para vender o produto das suas caçadas, quer fosse carne ou marfim.
Hoje legalmente só se caça por desporto com todo o seu significado, ainda que para muitos lhes custe aceitar que caça possa ser desporto.
Desde os tempos mais imemoriais, o Homem sempre caçou… e como nos disse Bocage; «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…»
O que ao princípio se praticou naturalmente para subsistência e defesa das primeiras tribos dos Homens, passando á sua prática como treino real de preparação para as guerras, que eventualmente sofreriam todos os povos, ou que ainda hoje, entre muitas outras simples razões, serve de ornamento essencial durante cerimónias de certas tribos, quer de maturidade de jovens ou proclamação dos seus novos Chefes, também aconteceu nos princípios do século passado e durante a colonização de África, que alguns desses colonialistas por já serem ou aprenderem a apreciar a Caça, tornaram-se caçadores profissionais, vivendo da venda dos seus produtos e em alguns casos isolados, eram contratados para proteger ou alimentar povoações de trabalhadores, quer dos primeiros caminhos-de-ferro, quer da primeira agricultura criada para subsidiar massas.
A seu tempo, sopravam novamente os ventos da mudança…. Vieram e acabaram-se as duas Grandes Guerras e consequentemente a seguir uma euforia, por explorar e experimentar o que ainda havia de bom, muito a propósito de quem queria celebrar ainda estar vivo.
Quase ao mesmo tempo a profissão de caçador profissional começava a ser vista como um excesso do colonialismo, pois como já foi dito noutro capítulo, para se caçar profissionalmente a Fauna que se encontrou em África, foi preciso primeiro confiscá-la àqueles que eram seus donos e nessa altura não tinham voto.
Talvez inspirados no safari que tinha sido organizado ao Presidente Norte-Americano Theodore Roosevelt, que estou certo que terá sido a sua melhor recordação dessa sua visita a África e de tanta literatura sobre essa nova experiencia cinegética deixada pelos primeiros e legendários caçadores profissionais, provocando outros que já eram caçadores e apoderados, quererem também experimentar toda a magia e largadas de adrenalina, que lhes contavam os livros da Caça em África, … criando-se assim as condições necessárias para que tais profissionais se transformassem em Guias de Caça e Outfitter, o que pautada e consequentemente acabaria com o negócio da carne e marfim, que como já foi dito eram vistos como excessos do colonialismo.
Tal eventualidade ajeitava-se mais ao momento; remunerar o novo caçador guia por guiar turismo caça, em vez de o ser por ele mesmo caçar.
A profissão ganhava considerável respeito pelos tantos novos benefícios que proporcionaria tanto às comunidades, como aos próprios governos.
Os governos passariam a receber novos e importantes ingressos através da caça paga por turistas caçadores, que pressupostamente a pagavam em divisas e a melhor preço que os residentes desses Países, vindos dessas áreas tão remotas, que ainda hoje há tantas por África.
Com a presença desses profissionais em tais áreas, as comunidades também passavam a receber duma maneira ou doutra mais assistência humanitária, quer fosse a carne, que antes lhes era vendida pelos profissionais e governos e que agora era-lhes gratuitamente distribuída, quer fosse transporte a quem urgentemente necessitasse de assistência médica, quer fosse um novo emprego local criado, etc., etc.
Os Governos criando e distribuindo a cada um desses profissionais as primeiras coutadas de caça, obrigava-os a investirem em certas infraestruturas, que antes não seriam necessárias, como acampamentos mais sólidos e turísticos, estradas, pistas de aterragem, etc., ….
Um pequeno grande passo em tema de conservação moderna e eu opino por encima de tudo, que os dignificou pelo menos, por outras duas grandes razões: davam continuidade nobre à Caça, que sendo a mais antiga e comum das tradições humanas, deverá ser sempre e a qualquer custo preservada e não menos importante, tinham permitido que a Caça fosse praticada não só por todos, mas deixando também beneficiar um maior número e classes de gente, como nunca tinha sido antes, pois a Caça ainda que sempre tenha sido comum a todas as raças, nunca foi praticada por todos e muito menos, distribuídos os seus benefícios…
Obviamente que com todos esses predicados, esta nova profissão seria abençoada e dignificada pelos governos e em geral respeitada socialmente, mas que agora desgraçadamente tem vindo a deteriorar-se tais considerações… e haverá razões para isso!
Provavelmente por ter raízes coloniais e os novos governos de África livre ser-lhes difícil acomodar-se ao facto de que ainda hoje a maioria dos guias de caça profissionais serem de raça branca, recordando-lhes o título usado pelos ingleses como denominação desses pioneiros da profissão, “the White Hunter”- o caçador branco.
Claro que tal denominação foi dada por snobismo, para os diferenciar como os diferentes, os melhores, etc. …. Mas que na realidade perdera rapidamente o ênfases, pois se o guia profissional deve com certeza ser suficientemente educado para poder conviver naturalmente com essa “Jet”, que sempre foi quem pode pagar e desfrutar dos luxos do Presidente, por outro lado, considerando realmente o que na profissão ele está lá para fazer, que é caçar, verdade seja dita e ao contrário do que nos contam os livros, ele era e ainda é o pior caçador do grupo que forma cada uma das equipas de caçadores profissionais.
Aqui refiro-me aos pisteiros, homens locais contratados para nos rastrear, como profissionais que o são, mas que não estão legalizados como tal.
Ainda que já há vários anos não sejam só brancos, os guias de caça profissionais, mantêm algo em comum; sentem todos a necessidade de colocarem um desses morenos locais, o pisteiro, à frente da linha de caça, para que lhes mostre o caminho e aonde pára a caça… de preferência desarmados, para que não seja por eles que aconteça algum acidente e se possível, treinados a atrair eventualmente as cargas dos animais feridos para eles e assim o caçador branco poder fazer um bom tiro de remate.
Os nossos livros estão cheios de histórias anedotas, que nos enaltecem, porque eles (os pisteiros) largaram-se a fugir e deixando-nos sós em situações delicadas, sem primeiro fazermos justiça dos factos.
Se não os queremos armados e só por isso, já não lhes podemos exigir que confiem em nós, pois a confiança dá-se primeiro antes de se receber.
A nossa soberba não nos deixa entender, que eles só são pagos para nos mostrar a caça e já cumpriram com a sua parte e dever, quando tais circunstâncias delicadas aconteceram.
Em cada livro de caça, o autor sempre se dá ao trabalho de explicar ao leitor, como são ou eram as boas relações que mantém com os seus pisteiros principais, chegando quase sempre a dizer que se tornaram tão amigos, que confiavam cegamente cada uma das suas vidas nas mãos do outro, etc., etc. …. Terá sido mesmo assim? Quantos foram tais os pisteiros, que confiando tanto nos seus patrões, tenham deixado para trás as suas pobres vidas e famílias e tenham ido com os seus queridos amigos procurar vida noutro país, quando esses por quaisquer que fossem as razões tiveram de deixar o país aonde caçavam?
Por outro lado e como mínimo, se com essas histórias é como os profissionais retratam os seus melhores amigos da caça, imaginem o resto!
Com tais atitudes, nós mesmo e não os ventos de mudança, forçaremos a nota da nossa transformação em outra coisa qualquer, pois se ao princípio fomos abençoados por governos e respeitavelmente considerados pelas sociedades, por aportarmos algo positivo em relação à Caça, Governos e Comunidades, tais considerações vêm vindo a degradar-se a tal ponto, que já a ninguém lhe importou, que um presidente como o da Zâmbia, Federico J. Chiluba tenha decretado inesperadamente em 2001, um cerre á industria da caça por um ano, baixo falsas pertenças e o que de facto levou dois anos e meio, pois ninguém no país levantou um dedo a nosso favor, o que nos mostra bem, o que hoje por hoje, a media pensa da profissão… se fossemos varredores de ruas, estou certo que alguém tivera denunciado publicamente tal aberração do presidente.
O que parece claro, é que se o caçador guia profissional segue sendo o que é, terá os dias contados e se terá que transformar noutra coisa qualquer, se é que desta vez encontra espaço para o seu ego.
Espero que não tenha que ser em rancheiro, como tudo aponta que terá que ser!
Esses, ainda que se intitulem guias de caça profissionais e estejam muita de moda, não darão a continuidade nobre que a Caça merece.
Considerados agora mesmo pelos governos e massas ignorantes como caçadores/conservacionistas, não passam doutro tipo de “verdes”, que conseguiram saberá Deus e o Diabo como, readquirir velhos excessos do colonialismo, como o negócio da carne, apropriações de enormes terrenos com tudo que se encontre dentro deles aprisionados por vedações eletrificadas e autorizados a defendê-lo a tiros, como se dum lar se tratasse, quer contra animais indesejados como Caracal, Leão, Leopardo ou Hiena, … ou até mesmo algum homem!
Talvez causado pelo distanciamento atual entre o ser caçador guia profissional e Outfitter, o caçador guia vem perdendo qualidades de empreendedor e promotor da caça, sentindo-se confortável e seguro com apenas ser contratado por uns dias pelo Outfitter, que em alguns casos como na Zâmbia por exemplo, aonde sem uma recomendação deste último, o departamento de caça não concede a licença anual de caçador profissional a nenhum guia… e a maior parte dos Outfitters nunca foram guias de caça… e esta?
Assim, a solução que o caçador guia profissional tenta dar á sua vida, é de exercer uma dupla profissão, seja ela, mecânico, pescador, agricultores, etc. … quer para se defender durante as épocas de cerre da caça porque não acumulou o suficiente, quer dos azeites do seu Outfitter e porque não do Presidente?
Desde que vim para a Zâmbia em 1987 e até a Associação dos Caçadores Profissionais do país não poder esconder por mais tempo a autentica palhaçada que se foi tornando até ao ano 2000, sempre foi regulada e representada por gente que nunca foi nem caçador profissional, nem guia de caça, que para reinar por alguns anos mais fingiu ser ultrapassada por outra associação, a dos “Outfitters”… outra palhaçada considerando o que realmente fazem para bem da caça ou do caçador, já não falando de como secretamente foi formada!
Eu, que durante toda a minha vida só fui caçador guia profissional e nunca tinha sido obrigado a ser membro de associações ou clubes, foi um choque ter que sê-lo à força na Zâmbia e de contrário não podia caçar.
Obviamente, que por tais associações que descrevi, nunca fui informado do que quer que fosse que se passasse no mundo da caça da Zâmbia, com exceção de uma cartita anual que me enviavam a recordar-me que a minha cota de membro não tinha sido paga, sempre um pouco antes da altura em que nós nos devemos apresentar no departamento de caça, para a entrevista ou exame anual, a que todos os profissionais da caça na Zâmbia estão obrigados a fazer antes de lhes concederem a licença de profissional para essa época.
Tais entrevistas também são-nos feitas por um painel de gente que nunca foi nem caçadores profissionais nem guias de caça.
Quando com o meu pai chegámos a este País, ele que já tinha quase 40 anos de guia profissional e Outfitter e tinha sido dono fundador de algumas das maiores companhias de caça que alguma vez África tinha conhecido, depois de o terem reprovado no exame feito pela associação de caçadores profissionais, obrigaram-no a ser acompanhado durante o seu primeiro safari que estava para chegar, por um profissional branco Zambiano, que apenas tinha um pare de anos como tal… tipo padrinho!
Nessa altura, para além desses exames anuais que ainda hoje perduram, tornando-nos provavelmente nos únicos profissionais do Mundo que têm de provar anualmente o que são, também é interessante informar, que a licença de caçadores profissionais que nos passavam custava US$ 100 como estrangeiros com permito de trabalho. Em 1993, por recomendação da nossa Associação, passaram a custar US$ 5000, frente aos US$ 3 que pagava um residente, status que só se poderia obter depois de 8 anos no País, com permanências maiores de 9 meses por ano.
Hoje e desde 2007, o departamento de caça, ou o Governo, que não quer saber quem a paga, mas pagam-se, começou a exigir US$ 6000 ao caçador que se encontra sob permito de trabalho, US$ 1250 ao residente e US$ 312 ao cidadão. Se isto não é descriminação, será proteção à inferioridade do cidadão?
Os US$ 6000, que a quem lhe deveria interessar, mas não se interessa em saber quem as paga, são geralmente pagas por certos cidadãos Outfitters, que apesar de não terem clientela, têm das melhores áreas do País e que atraem um tipo de guias profissionais a quem chamamos “frei lances”, provavelmente os que a lei dos US$ 6000 gostaria de evitá-los, por ser gente que caça em toda a África que se ajusta às suas conveniências e que em troca dos seus serviços, obriga tais Outfitters a pagarem o que foi criado por eles mesmos.
Aqui será interessante mencionar, que quando o Presidente Federico Chiluba da Zâmbia cerrou a caça em Janeiro de 2001 e eu decidi ir fazer essa época a Moçambique, a companhia de caça Inhaminga Safaris, com quem eu iria colaborar, adquiriu-me a licença de profissional por US$ 30 e previamente á minha chegada ao País.
Depois de já ter dado o meu parecer sobre o Ministério do Turismo e dos Outfitters no capítulo anterior e agora explicado que a única coisa bem-feita pelas Associações dos Caçadores Profissionais e de Outfitters da Zâmbia foi ter tirado a voz ao caçador guia profissional, que é quem realmente guia e convive com o turista de maior nível do País, só me resta descrever sobre quem regula e controla a indústria – ZAWA (Zambia Wildlife Authority).
Quando o Governo da Zâmbia, recomendado por não sei quem, decidiu reestruturar o Departamento de Caça no ano 2000, que se chamava “National Parks and Wildlife Service” e passou-se a chamar “ZAWA” a (Zâmbia Wildlife Authority) algo que diziam estar integrado no processo das privatizações que decorriam no País, por certo nada transparente, mas que continuaria sob controlo do Ministério do Turismo como antes, foi o melhor que nos esclareceram como para não criar avoco, aonde eu acreditava que não haveria nada mais que pudesse criar um mundo ainda pior para o caçador guia viver e aí estava equivocado!
Talvez por conveniência, deixaram transpirar rumores que quem desta vez viria em salvação da conservação e melhor administração da Fauna da Zâmbia eram a CEE, os EUA e o Japão respetivamente, pois o último programa falhado de conservação da caça tinha sido encabeçado pelos EUA quase a solo, através do famoso programa ”ADMADE”, tipicamente desculpado o seu falho, ao pobre financiamento pelo Governo, que convenientemente se considera um dos pobres deste rico Continente.
Vivíamos um momento de profunda expectativa, aonde nenhum de nós podia perguntar nada a ninguém, pois os nossos contratos para as áreas outorgadas durante o último leilão oficial de 1996 também caducavam no ano 2000, por outras palavras, deixava oficialmente de haver Outfitters, os patrões dos guias de caça e assim, deixados completamente à mercê dum Presidente, que decretaria um cerre à caça e à nascença da nova esperança e estrutura desse novo departamento chamado ZAWA e a dois meses do final do seu último mandato presidencial por um lado e por outro, da nossa querida, ridicularizada e incompetente Associação, deixando-nos sem saber se a coisa era para rir ou chorar…
Eu, que tinha sido esclarecido pelo cônsul da Embaixada de Portugal em Lusaka, quando por esta altura Portugal administrava a presidência da CEE, que dos países da Comunidade Europeia que efetivamente prometiam apadrinhar Zawa eram a Noruega, Suécia e Holanda, sentia mais vontade de chorar que de rir e hoje, como já era de esperar, toda ou quase toda a comunidade de caça na Zâmbia, sente a nostalgia dos melhores tempos da Ex estrutura da Fauna do País que foi desmantelada.
Durante o nosso último ano dos contratos que caducariam em finais de 2000, podemos testemunhar como se despediam os melhores e mais sérios operacionais da Ex estrutura “NPWS” através de uns exames modernos, também inventados por não sei quem, para os substituir por outros, duma classe de gente, que não só nunca tinham vivido no campo, como também nem sequer conheciam a fauna do País, pois tudo que lhes era exigido, era saberem preencher os novos formulários desta nova estrutura, que em vez de um Diretor Geral que havia antes e que durante os primeiros trinta e seis anos de independência que o País já tinha, conseguiu manter a Fauna suficientemente funcional e atrativa, passaria agora a ter um Diretor General e mais cinco outros (Comercial, Plano e Conservação, Áreas de Caça, Investigação e o Financeiro) aonde nenhum está autorizado a resolver qualquer que seja a questão que se lhes apresente, sem primeiro tal questão ser debatida entre outro grupo de gente, com outros tantos diretores e vice diretores.
Uma autêntica teia de Verdes.
Eu digo que duvido por exemplo, que o Diretor Geral que tinha sido antes professor de escola, se tenha dado alguma vez ao trabalho de aprender a reconhecer as diferenças que há entre um Oribi e um Steinbok e é assim que anda este mundo da caça na Zambia, sem que os guias de caça profissionais pareçam interessados ou capacitados em mudá-lo e isso deve-se com certeza ao facto das suas duplas profissionalidades, que são tratadas como identidades secretas e também está claro, àquilo que eles se tornaram e acreditaram.
Poderia escrever um capítulo inteiro do porquê, que sempre me pareceu desde o primeiro dia de que ouvi falar da nova estrutura ZAWA, que são como mais um desses grupos de lunáticos, que predicam direitos aos animais como se eles fossem e merecessem mais do que os homens, mas para o que aqui interessa, já foi dito e pode elucidar o caçador guia profissional, tomando o deste país como exemplo, que acabaremos por ter todos o que merecemos, a nossa própria extinção, se não mudarmos radicalmente as nossas atitudes, quer com respeito aos Outfitters que nos contratam, Associações e Clubes de Caça que nos representam ou, até mesmo com o Ministério governamental que nos regula.
Diz-se que a melhor defesa é o ataque. Pois bem, se tivermos de ser transformados noutra coisa qualquer, que sejamos quando nós o entendermos e não eles, pois se todos são importantes por quaisquer que sejam as razões, imagine-se o que realmente caracteriza o caçador guia profissional, sendo ele o único elo entre o Ministério e as populações rurais, verdadeiros utilizadores e conservacionistas da caça que ainda existe, ou entre o cliente caçador e o que o Outfitter lhe vendeu?
Se assim é e não soubermos fazer uso de tal, então sim é melhor mudarmos de vida e quanto antes melhor.
Repetindo-me, que há já um século quando esta nova profissão nasceu, era realmente respeitada e apreciada pelos governos e que até hoje tem criado ingressos tão importantes aos países aonde foi praticada, repartindo benefícios pelas suas comunidades rurais, que nenhum governo até hoje pôde desdenhar.
Só por isso deve de continuar e não por contar com os favores de Ministros ou Presidentes, como esta tem vindo a ser tratada desde os tempos das novas independências de África.
Devemos a todo o custo recuperar o respeito que durante essa altura todas as profissões perderam, baixo os “slogans” dos movimentos de libertação que predicavam “Independência ou Morte” e que para isso se destruíram em muitos casos todas as infirais estruturas possíveis.
Pode-se muito bem imaginar o que engenheiros e arquitetos sofreram ao ver as suas queridas obras serem destruídas por tanques, bazucas e metralhadoras, mas eles como muitos outros, já recuperaram esse respeito que aqui me refiro.
Já são demasiadas as Associações e Clubes de Caça e de Caçadores, leis de caça, listas de condutas e éticas para profissionais, etc., numa pezuda tentativa de selecionar personalidades com éticas e morais para esta profissão, que atua tão longe do controle da sociedade, como se assim se pudesse corrigir, o que certos grupos de hipócritas dizem, que vai mal por nossa culpa e eu opino que tudo será inútil, até que esta profissão seja garantida, protegida e respeitada novamente pelos governos, que até hoje têm vindo a beneficiar dela como com qualquer outra profissão considerada idónea pelas sociedades em geral.
Se este problema não for seriamente debatido e resolvido, então poder-se-á prever um final prematuro da profissão e não será por terem soprado os ventos da mudança…
Como já foi dito, na Zambia que representa um dos países com a maior biodiversidade da Fauna da África Austral, aonde caçadores guias profissionais e até Outfitters exercem uma dupla profissão, para mais ou menos protegerem-se das indisposições dos políticos, será aonde as associações e clubes de caça deveriam prestar mais atenção e tornarem-se mais sérios na admissão dos seus membros, pois leis, condutas e éticas elaboradas e tão predicadas por eles, só criam gente com modos e o que esta profissão necessita são princípios.
Gente que não acredita na perpetuidade da Caça, mas está nela, são como um cancro.
Cada vez são mais, aqueles que mesmo cumprindo com todos esses requisitos das associações, clubes, leis de caça, etc., lhes falta experiencia na caça. Consequentemente, começam a ser muitos os caçadores clientes com mais experiencia de caça que nós profissionais.
Agentes de caça que num pare de dias se tornam guias profissionais e clientes que se tornam agentes.
Hoje qualquer um pode ser caçador guia profissional, depois de passar por esses exames sobre o nome das palhas e árvores, independentemente da experiencia real que tenha do mato, caça, ou em alguns casos, até mesmo educação.
A meu ver, isso deve-se a toda anarquia criada à volta da Industria da Caça por certos tipos de gente prepotente e eu responsabilizo à priora a incompetência já bem demonstrada pelo Ministério de Turismo, que nunca soube ver, nem nenhuma associação ou clube lhe tentou fazer ver, que a administração da Fauna dum país, tem mais que ver com os seus colegas da Agricultura, Florestas, ou Fauna Bravia, do que só saber que é o Turista de alto nível que a pratica.
Pior ainda do que ser mal administrada pelo Turismo, é que apesar de criar milhões de dólares anuais de ingressos em divisas nos países aonde é praticada, este Ministério, que talvez por ser gigante, não se molesta nem com o seu desenvolvimento, bem-estar e secularidade social de quem a exerce, ou a sua continuidade. Por palavras mais simples, tudo sobre a Caça parece ser deixado aos anti- caça.
Não existem escolas, nem cursos, nem nada parecido, (… oh! Perdoem-me! Agora já as há, mas só na Africa do Sul, aonde não há caça do outro lado das vedações elétricas) para educar as novas gerações que veem para esta vida e que cada vez mais como já foi dito, terão menos experiencia no terreno que seus próprios clientes.
Colateralmente aprendem por livros escritos por antecessores, muitas vezes profissionais presumidos, chuladas sobre atos de coragem, sabedoria absoluta de quem matou mais, que com certos calibres de balas se tornam intocável, que já não se pode ser tão bom como antes, etc., …para todos os gostos! Sullivan ensina-lhes a matar em carga e Tony diz-lhes que os animais nunca carregam.
“O último safari”, “O último dos poucos”, “O último caçador de marfim” e por aí adiante, são títulos dos livros que fazem os novos pensarem que já não há nada para melhorar ou descobrir e então vale tudo até se fecharem as portas, mas a verdade é que todos os dias aprendemos coisas novas na Caça e sobre Ela, os animais e os seus habitats e por isso ao contrário do que os pioneiros pensaram, a Caça ainda existe, e não será irracional dizer, que em muitos aspetos, em muito maior quantidade e até qualidade, que durante os seus bons velhos tempos, pois é um facto que somos muitos milhares mais a caçar e ainda batendo novos recordes.
Não nos enganemos, as portas não se cerrarão á caça profissional, porque as coisas na caça sempre foram adaptáveis.
Ainda há quantidade de benefícios que se produz através desta profissão, assim como quantidade de potenciais desconhecidos para nos desenvolvermos, tão sãos e desportistas, como antes sempre foram.
Recordo-me do meu pai me ordenar que saísse de pendura no carro de outros seus profissionais, quando do meu primeiro ano como tal.
Quando aborrecido lhe perguntei, que iria eu aprender que ele não me tivesse já ensinado, ele respondeu-me: “Vais como mínimo aprender o que não deves fazer…”!
Passadas já mais de três décadas e por circunstâncias da vida, voltei a estar de pendura em outros carros de profissionais e continuo aprendendo um montão de coisas que não devo fazer e com certeza se fossem eles de penduras no meu carro, aprenderiam outras tantas!
Esta profissão de caçador guia só agora vai começar. Se deve continuar sob a direção do Turismo, Agricultura, Florestas, etc., se verá! Mas desde que nasceu sempre foi profissão auto sustentável e com tantos benefícios, que até hoje nenhum país os desdenhou.
Ainda é através da Caça, que se financiam programas novos de conservação e nós (os caçadores guias profissionais) temos uma parte importante de responsabilidade na sua implementação.
Não devemos continuar convencendo-nos que o “Bushman” deve ser sempre como foi, só para recrearmo-nos com câmaras fotográficas. O Mundo vai tão aceleradamente transformando-se, que nem Bushman, nem Maçai, nem os pigmeus das florestas poderão escapar às adaptações de sobrevivência.
De nós, caçadores guias profissionais se deveria exigir que lhes prestássemos atenção, como um mínimo de assistência, para que o dinheiro que produzimos através das suas áreas, seja realmente revertido a seu favor e suas povoações, construindo-lhes poços de água, clínicas, escolas, sistemas simples de irrigação para a sua modesta agricultura, etc., etc., … empreendimento nas suas áreas, que é aonde lhes podemos ensinar.
Devemos de ser os primeiros a tratá-los com respeito, amizade e até gratidão, por serem eles os verdadeiros conservacionistas da caça, nossos grandes mestres e guias e contudo comportando-se tão humildemente, convencem-nos que as caçadas saiam-nos bem porque nós (profissionais) é que sabemos caçar.
Cada um de nós considera o seu pisteiro como muito bem capaz de atingir qualquer meta na caça e em geral isso é um facto, pois eles são verdadeiros guias profissionais não legalizados. Podemos ensinar-lhes de tudo, menos caçar!
Trata e respeita-os como merecem e serás também bem tratado e respeitado.
Comunica-te com eles sempre que possível no idioma que o teu cliente entenda, pois mostrar ao cliente caçador que quem caça, são os nossos pisteiros e não nós, não passa nada, só é a verdade que ambos merecem, clientes e pisteiros.
Somos uma equipa e cada um com diferentes tarefas, como cada membro de um grupo de músicos toca instrumentos diferentes. Se tocarem todos bem, a música será boa.
Está nas nossas mãos a música que queremos tocar. Se os nossos pisteiros têm que atuar mudos e só comunicar connosco, ou se por outro lado, estão livres para comentarem tudo com todos, incluindo com o cliente, o que para mim torna o safari muito mais divertido.
Quando os nossos clientes querem gratificá-los, não fiques tu com o que é deles sob nenhum pretexto, ou por tempo algum.
A tua serenidade será fator importante como guia de caça. Se nos mantivermos serenos, toda a equipa o estará e até o caçador atira melhor, pois por nos ver serenos terá mais tempo para pensar no que vai fazer e assim poderemos evitar dobrar tiros, que por vezes tanta polémica cria! Quem paga é quem deve dar os tiros.
Não há consistência para pensarmos que atiramos melhor que eles. Atirar bem é atirar muito e eles têm mais poder económico para atirar mais do que nós.
Vários desses caçadores clientes já caçaram mais espécies, em mais tipos de terreno e até mais animais que muitos de nós bons profissionais e ao mesmo tempo vão aprendendo e desaprendendo com uma série de profissionais, que vão contratando ao longo das suas viagens de caça.
Digo bons, porque considero-me um desses bons profissionais que nunca matou muito, nem de muitos.
Cresci a caçar Duikers, Bushbuck, Impalas, Hartebeest, Wildbeest, Javalis e coisas dessas, que há por todos os lados e que não criam fama a ninguém. Meu pai deixava-me assistir às suas esperas de Leão, ou Leopardo num cêbo, Elefantes num rio de areia aonde eles viriam beber, mas nunca me animou a matar desses animais, que se consideram ser os importantes…pelo menos nas listas de preços dos nossos safaris.

Não consigo compreender como é possível, certos profissionais contarem até dois mil Búfalos que dizem que mataram. Para mim, isso é de banda desenhada.
Matar muito, não tem nada que ver com saber caçar! Fui colega de gente que com certeza matou demais, por terem sido durante anos, desde caçadores profissionais a guias de caça, passando por terem feito parte de equipas de discastes a Búfalos, Hippos e Elefantes para alimentarem populações e à hora de me pendurar nos seus carros ou barcos, aprendi mais das coisas que não devo fazer, que de outras.
Caçar um só Elefante grande dum grupo, terá um “appeal” diferente de ter podido disparar a todos do grupo a que se pudesse, mas ambos lances serão iguais de emoções, ou largada de adrenalina, disto estou certo!
Quando trabalhei no Sudão, País extraordinário para colecionadores de espécies raras e que entre muitas outras quero nomear o Elefante, Bongo, Sitatunga de floresta, Eland de Derby, etc….guiando dezenas de safaris para caçar tais animais durante dez anos, orgulho-me de dizer que me tornei num verdadeiro especialista a caçá-los mas, nunca eu mesmo tenha morto algum deles, com exceção do Elefante, mas que não foi no Sudão que o fiz.

Na Zâmbia, já no ano 2000, apresentou-se-me um grupo de guardas de caça no meu acampamento, com uma licença de caça especial passada pelo Ministro do Turismo pedindo à minha companhia para colaborar no abate de dois Leopardos, um Leão, dois Eland e três Reedbucks, para serem oferecidos durante a cerimónia da coroação do novo “Litunga”, sua alteza Lubozi Imuíko, rei da gente Lozi do Barotzeland.
Só lhes consegui os dois Leopardos, que por morderem ao mesmo tempo as carnadas que lhes tinha preparado, dividi o grupo de gente que formava a equipa de caçadores pelas carnadas tocadas e assim conseguimos um doblete de Leopardos e um deles seria orgulhosamente o meu primeiro e único Leopardo, que realmente fora morto por mim.
Grátis, no ano 2000 e a pedido Governamental, para comemorar uma nobre e importante tradição: a coroação do novo Litunga da gente Lozi do Barotzeland, eu matava o único Leopardo da minha vida, apesar de ter nascido filho de um Outfitter, caçado como residente num País que me tivera autorizado se o tivesse querido fazer e tornando-me guia de caça há já mais de três décadas.
Um dos gatos foi o meu 1º e único Leopardo; Com a colaboração do Max, Handiabanto e Richard

Meu irmão Japão consolando-me dizia "Leão é Leão"
Também só matei uma Leoa como treino real, quando da minha entrada para esta vida de profissional e uma dezena de Búfalos como caçador residente em Moçambique aonde nasci e contudo o que fiz até hoje, foi só caçar e de miúdo, inocentemente furtivar!?
De miúdo aprendi com outros miúdos a montar todo tipo de ratoeiras para pássaros e ginetes e era a primeira coisa que fazia ao chegar de férias aos acampamentos do meu pai.
Para além disso e equipado com uma caçadeira de calibre 410 e uma carabina 22LR cacei pássaros de todos os tipos, coelhos, bushbabe, esquilos, Duikers, Suni, Bushbuck, Bushpigs, etc., …de tudo que me aparecesse à volta do acampamento e quantos fossem possíveis e na verdade não sabia que isso era furtivar, considerando que há limites de idade para obter as devidas licenças de caça.
Antes desta faceta, já tinha dado milhares de tiros com as diversas carabinas de ar comprimido que fui tendo ao longo da minha infância, às quais aplicando-lhes um visor e usadas na caça, atuam prodigiosamente quando nas mãos duma criança.

Saltões e caranguejos de mangal, cigarras, abelhas, caracóis, lagartos, camaleões, ratos, maçaricos, gaivotas, garças, Martim pescadores de todos os tipos, gaios, rolas, corujas, corvos e até alguma águia, eram os desafios das competições que organizávamos entre uns e outros, os miúdos do meu bairro.
Isto pode parecer-vos insignificante comparados aos milhares de Búfalos que outros dizem terem morto, mas eu garanto-vos que foi com esta infância e mais um pare de ensinamentos do meu pai, que quando me começou a deixar caçar um Hartebeest, Wildbeest, etc., …por muito mal que eu ou um dos meus irmão o fizéssemos, ele nunca rematou um desses animais que tivesse sido ferido por nós, mantendo-se apenas a tentar acalmar-nos, comentando o que ele pensava que o animal faria a seguir, conseguindo com isso, que eu consiga hoje guiar os meus safaris sem ter que andar a dobrar tiros dos meus clientes caçadores, o que em geral, esses profissionais que o fazem, por quaisquer razões que eles prediquem, eu digo que é em um 98% das vezes, feito pelo gozo que ainda sentem de dar tiros, ou adicionar um número mais ao seus palmarés, recusando entender que quem paga é quem deve atirar à caça.
Com os meus insetos, répteis, pássaros e pequenos mamíferos, enchi-me de dar tiros e com os Hartebeest, Zebras e Wildbeest, aprendi com ele (meu pai) a dar exclusividade da caça a quem está de turno.
Um profissional só tem o dever de dar tiros à sua descrição, para evitar a desgraça que uma carga dum animal ferido pode causar a qualquer membro da equipa de caça e esses casos são realmente raros!
Se o caso for ao revés e o animal ferido foge, correndo-se o risco de o perder, o profissional só deve dobrar o tiro do seu cliente, se previamente já concordaram sobre tal possibilidade de ocorrência na caça…e ponto final.
Perdi vários elefantes durante a minha vida de guia profissional, por evitar, talvez demasiadamente, não dobrar tiros do caçador e conversando com outros profissionais, noto que é raro os que concordam ou atuam á minha maneira; pois bem, todas as regras têm exceções e eu continuarei a desfrutar por não dobrar-lhes tiros sem que seja absolutamente necessário, quer seja a defendermo-nos (ocasiões raras), quer seja para não perdermos de vista, em certos habitats, um animal ferido, que mais tarde pode criar problemas, que nem quem o feriu estaria interessado em experimentar.
Obviamente, cada um de nós guias de caça deve conduzir o safari à sua maneira, pois é para isso que nos pagam, mas ter sempre claro, que não há uma fórmula que serve a todo tipo de caçador, pelo contrário, deve-se ter sempre claro, que cada um dos caçadores que nos contratam são personalidades diferentes e a única coisa que normalmente têm em comum, é ser gente economicamente bem-sucedida e por isso mais habituados a dar ordens que a receber. Em muitos casos como já foi dito, são gente que já caçou com outros profissionais e portanto também têm as suas convicções, ou estilos de caça e nós não devemos pensar à priora que eles não consigam como nós, atirar a solo a qualquer animal que tenham vindo caçar.
Ainda que a posição de caçador guia seja hoje considerada como das últimas da hierarquia que constitui a Indústria da caça, ele é o único que goza do privilégio de contacto real com todos os outros elementos que a formam, podendo assim formular certos princípios e convicções que o tornarão único.
O Ministério, através do departamento de caça, dita as leis do jogo e quer-nos à letra, mesmo que alguma delas estejam desajustadas.
Algum pormenor que ao Governo lhe escape, para que se torne mais difícil caçar e quase impossibilitar a expressão liberal que mais define esta profissão, ser-nos-á recordado pelas nossas queridas associações de caçadores profissionais, às quais lhes encanta predicarem listados de éticas e códigos de condutas profissionais, que nos absolverão do pecado de matar.
Depois o Outfitter, também instrui o caçador guia sobre umas tantas mais que se ajustarão à companhia, para atingir certos objetivos particulares, quer sejam de conservação, administração, ou até de esclarecer o cliente sobre certas restrições da lei, que ele (Outfitter) não teve ocasião de o fazer durante a venda do safari, nessas tão atribuladas convenções de caça, etc.
A seguir está o cliente caçador, que com sol ou chuva, quer que a sua equipa lhe proporcione oportunidades reais de caça aos animais que lhe interessa caçar, nem que para isso, se tenha que dar algum tiro fora de horas, sendo por isso tantas vezes e equivocadamente mal-entendido e até julgado.
Eles são os únicos que pagam para o resto poder dizer orgulhosamente o que fazem no e do Turismo! … Por outras palavras, os únicos imprescindíveis à Industria da caça e contudo, quem quase sempre paga direta ou indiretamente as prepotências e incompetências dos outros todos, quando as há.
Quantas são as leis e medidas, que se inventam para controlar eventuais abusos na caça, mais ou menos dirigidas ao caçador que contracta o safari, como se fosse ele quem em geral provoca o desrespeito às normas da caça.
Quantas vezes no terreno, parece ao profissional ter nas mãos um cliente difícil e só porque lhe mentiram quando lhe venderam o safari!?
Acompanhando clientes amigos a caçar com outros profissionais, um ou outro animal que não está permitido caçar na Zâmbia, como o elefante por exemplo, testemunhei várias vezes como certos profissionais conduzem os seus safaris, bombardeando permanentemente o cliente com as leis do País, como para se desculparem de não poder fazer melhor do que fazem, quando pouco fazem, devido a tais leis.
Não se pode sair das picadas com o carro, não se pode atirar a menos de não sei quantos metros dele, não se pode deixar o filho do cliente atirar a um dos animais que o pai lhe gostaria de oferecer, algum desses profissionais não deixa o caçador atirar ao cérebro dos elefantes por se dizer ser tiro difícil, implica com as cores da roupa do cliente, se estas não forem verde e não os deixa fumar, menos mal que não diz que é por lei…. E eu digo que há tanta coisa que se pode fazer, que se começarmos por elas, não teremos tempo de lhes falar das que não se podem e a convivência durante o decorrer dos safaris tornam-se muito mais agradáveis e até produtivos.
Liberdade sem excesso é saudável em qualquer caso!
As pessoas que nos contratam, não o fazem para lhes ensinarmos as leis do País. Também eles à sua maneira, sabem respeitar o que é justo na Caça. Não nos esqueçamos; eles também são caçadores!
Se pensamos que nos tornámos guias profissionais por amor á Natureza e aos animais, o caçador cliente tendo feito da caça seu “hobby” andando pelos sítios mais isolados do Planeta, caçando com grupos de gente que lhe é estranha, nos sítios mais inóspitos, todo o tipo de animais, …também amarão a Natureza, os Animais e a Caça como nós, ou até mais do que nós!
Eles, os nossos pisteiros e nós somos todos caçadores… nem melhores nem piores, só diferentes. Não nos equivoquemos, nem com o seu aspeto, pois mesmo parecendo-nos diferente, é tão igual ao nosso, quando andamos pelas Convenções de Caça dos seus países a vender-lhes a nossa caça e contudo eles não nos tentam explicar como nos devemos parecer ou comportar-nos.
Com os nossos pisteiros podemos aprender tanto de caça como da sua tão típica humildade, que nos faz pensar, que nascemos para ser caçadores!
Hoje, com a proliferação de organizações anti caça capazes de subsidiar qualquer projeto de conservação, que até hoje era só feito através da caça, devemos humildemente reconhecer que já somos prescindíveis às médias; resta-nos portanto, continuarmos imprescindíveis aos nossos caçadores clientes, equipas de caça e comunidades que vivem nas nossas áreas de caça, pois são só eles neste momento, que pesam no braço da balança a favor da caça, contra o anti caça.

Nesta profissão há coisas muito mais importantes a aprender e que nos ajudarão no decorrer das nossas vidas como guias de caça, do que conhecermos por nomes, as palhas e as árvores, ou que já não fica bem tirar fotografias ao caçador encima do seu elefante, ou se atiras desde um carro ou uma barca, ou se usas algum tipo de balas que dizem que mata melhor que outras, etc., etc.
Continuando a dar mais importância a isso tudo, do que aquela que realmente merece, será suicídio! Ainda que tenhamos vindo a ser cada vez mais provocados por organizações de lunáticos anti caça, somos mais nós do que eles, que criamos o nosso mal-estar.
O que é importante, é sabermos estar com cada um dos diferentes caçadores que nos contratam, quer como amigo ou cliente, em harmonia com o resto da equipa que ele irá conhecer, caçar e desfrutar de todos os momentos sérios ou divertidos que passam por todos os safaris.
Ter humor, saber entreter.
Entrar, caçar e sair da área de caça, sem que a caça se inteire do que estivemos a fazer.
Reconhecer os teus próprios falhos, ajudará o caçador cliente a compreender alguns dos dele.
Ser responsável por qualquer ocorrência com os membros da tua equipa, quer na caça, no acampamento, ou dirigida á Comunidade da área de caça.

Por respeito ao cliente, aos teus homens e populações, devemos distribuir grátis a carne da caça, que já foi paga pelo cliente.
Oferecer amabilidade, sinceridade e ajuda até onde possamos, a qualquer homem/mulher da nossa equipa ou comunidade, que te confia qualquer problema privado que o atormenta.
Deixemo-nos de mentiras premeditadas que só servem para dramatizar ou embelezar os livros de caça.
Não leves mentiras para o mato e não contes mentiras do mato; já basta o incrível que ele é!
O mato só por si, já nos provoca largadas importantes de adrenalina e quando ocasionalmente acontece algo mais incrível, que a todos sempre acontece, pode até tornar-se alucinante e por isso várias vezes, um grupo de gente relata de modos diferentes uma só história que lhes aconteceu.
No mato deve-se andar com o mesmo respeito que no ar, ou no mar.
Estou a falar de qualquer sítio de floresta, pântano, savana, rio, montanha, etc. …
Nunca ninguém me viu chegar ou sair do acampamento sozinho.
Assim fui educado sobre o mato, desde miúdo pelo meu pai e hoje
Sim, isto é para mim como uma lei básica da profissão. Mesmo que só seja a dez minutos do acampamento aonde eu tenha que ir, levo sempre alguém comigo, de preferência dois.
Acompanhando um cliente a caçar no Zimbabwe, espantei-me ao testemunhar como um jovem profissional, no final de uma caçada aos elefantes, deixou o cliente, a mim e a toda a sua equipa à sombra duma árvore e foi sozinho com o seu novo GPS, buscar o carro que tinha ficado a um pare de horas donde nos deixou. Para cúmulo deixava também a sua arma connosco para andar mais ligeiro, violando de golpe dois princípios básicos da minha profissionalidade.
O cliente que é um bom amigo meu, obrigando-me a comentá-lo, só me ocorreu dizer-lhe que, ou sou eu que já estou ultrapassado, ou este profissional tem tomates em vez de cérebro na cabeça, pois outro bom hábito a que fui educado, é de levar comigo uma arma sempre que me aparto por qualquer motivo da minha equipa, do carro, do “blind”, etc. ….
Há uns anos atrás, faltando a esta última regra, por ter adquirido uma pistola 9mm Parabellum e pensar que bastava, para o que nunca acontecia, já paguei cara uma lição.
Foi em 2001 em Moçambique, enquanto colocava um cêbo para Leopardo a uns 40 metros do carro e já ao fim do dia, com apenas uns poucos minutos mais de luz, cruzando-se-nos um Búfalo ferido entre nós e o carro e dadas circunstâncias decidimos dar-lhe caça.
Eu armado com a pistola 9mm e o caçador em safari comigo, com uma arma de calibre 9.3x74, que é um pouco justa para esse efeito, em minha opinião.
Total da história, o Búfalo foi morto apenas pelo caçador que realmente se comportou à altura, mas sem antes poder evitar que a besta me amolgasse o guarda-lama traseiro do Land Rover, aonde nos refugiáramos quando as coisas aqueceram e onde eu também tinha deixado a minha arma.
Claro que eu nem sequer me atrevi a dar um tiro com a minha rica pistola, consciente de que se o fizesse, só irritaria mais as coisas.
Eventualmente uma pistola será uma das boas defesas para se usar dentro de espaços limitados, como é um posto de espera para caçar um Leão ou Leopardo, mas como regra, não pode substituir a nossa arma. A “ Makombe”.
Será com certeza melhor ter que não ter, em um acidente aonde haja contacto físico com qualquer dos gatos (Leão ou leopardo) mas então já há acidente, quando por o que seja nos tenhamos que defender à pistola.
Que arma devemos usar? Qualquer uma de calibre gordo, que com ela se acerte mais do que se falha!
Em eventuais situações de perigo, é mais importante a serenidade e presença de espírito, que ser só bom atirador, o que também é melhor sê-lo, que convencido que os calibres das balas resolvem as coisas por si só!
Proprietários de armas de calibre muito grande, não praticam tiro suficiente, quer por ser incómodo ou caro. Com isto não quero dizer, que a família dos calibres 500, não seja de super armas!
Apesar de eu sempre ter caçado profissionalmente equipado com armas de calibre bem fortes, (505 Gibbs, 500 NE, 458 Lott) nunca desdenhei um 375 H&H em boas mãos.
Testemunhei um profissional esgotar as balas todas que levava do seu 500 Jeffrey, ao mesmo tempo, que o seu cliente fazia o mesmo com um 460 Wby e a besta continuar de pé e também testemunhei durante o mesmo safari, o filho do cliente com um só tiro do seu 375, matar o seu primeiro elefante… e esta?
Quero evitar entrar em argumentos sobre armas ou calibres perfeitos para defesa na nossa profissão, pois creio que deve ser uma escolha pessoal condicionada por circunstâncias como tipos de terreno, de caça, de animal a caçar, etc. … Já sem mencionar outros condicionamentos como as dificuldades de importação em certos países, disponibilidade económica e por aí adiante … contudo opino, que os profissionais deveriam de carregar sempre as suas armas com balas sólidas (blindadas) para todas as situações, sem subestimar as tão boas balas expansivas que hoje existem, baseando-me num só facto; quando as coisas realmente sobram para nós, o alvo estará em movimento, quer a vir ou a ir-se e com sólidas teremos menos com que nos preocupar, considerando a diversidade de objetos, que sempre existem entre os animais em movimento e nós.
Hoje há balas especiais para tudo, não haverá é tempo para as cambiar ao ritmo de cambio de situações a caçar e quantas mais vezes as cambiarmos, menos certos estaremos, do que temos carregado nas nossas armas.
De miúdo, vivendo numa casa aonde havia dezenas de armas e de todos os tipos, vendo o meu pai e os seus homens saírem para os seus safaris e de regresso, limparem e arrumarem as armas e o equipamento para a próxima vez, notava-lhes, mostrarem especial preferência por tão só um pare de armas, que até lhes deram nomes: a “Menina” e a “Makombe”.
A Menina era uma 264 W.M. de 26 pulgadas de cano, que lhe tinha sido oferecida pela marca Winchester, por tudo aquilo que ele se tinha esforçado e influenciado o Governo Português a por fim à caça profissional de carne e marfim, em câmbio por Turismo Caça.
A Makombe era uma 505 Gibbs fabricada por J. A. Bundock de Pretória - África do Sul.
Perguntando-lhes o que significava “Makombe” nenhum deles me definiram muito bem, mas teria algo que ver com medicina para problemas.
Não me recordo se alguma vez vi uma bala expansiva para esta arma, que mais tarde seria a minha primeira arma de profissional.
Roubaram-ma no Sudão em 1981. Um suíno que tinha capacidades para comprar balas deste calibre na Suíça, único sítio que nesses tempos, por vezes, disponham delas, mas que é um ladrão de armas tão comum como outros miseráveis, que no meu acampamento de floresta em Yambio, me roubaram outras e fugiram a corta mato para o Zaire, que se encontrava apenas a duas horas de bicicleta desde o meu acampamento de Sakuré.
Durante os meus anos de caça, claro que conheci montões de boas armas, mas como ele, o meu pai, senti-me satisfeito com só uma 264 WM e uma 505 Gibbs para tudo. Hoje, para o que aqui na profissão estamos para fazer, a 264 WM já sobra.
Depois de ambas perdidas no Sudão e um amigo reformado da caça oferecer-me a sua Menina, a minha bateria de armas é uma 300 Wby e uma 458 Lott e também funcionam maravilhas.
São os caçadores que fazem os calibres e as balas serem bons e não ao revés.
Nestes novos tempos de guia profissional, que conduzimos safaris por diferentes países, quer obrigados por guerras civis, vontades políticas, etc. … nós teremos de nos acomodar a baterias de armas mais modestas, pois armas não são obviamente o equipamento de desporto mais fácil de transportar pelos aeroportos.
Uma para tudo? Calibre gordo com balas sólidas.
Sempre que tive de pegar na minha “Makombe”, fui por eles só com balas sólidas e ainda não me arrependi!
Os caçadores e em particular os profissionais sabem que a balística não funciona tão matematicamente na prática como nas tabelas nos informam e então a melhor arma é mesmo aquela com que atiramos bem.
Eu prefiro balas pesadas com velocidades moderadas, com especial menção à família toda das de cal. 500 Inglesas, contudo uma 460 Wby é pressupostamente irreprimível e a balística mais poderosa do mercado; recomendável para qualquer tipo de caça profissional ou não profissional, para quem não esteja disposto a gastar o que qualquer das da família de cal. 500 valem, ou pedem por elas!
Hoje, com o que realmente é nosso dever nesta profissão cada vez mais restritarizada, já se pode muito bem reduzir a nossa bateria a uma só arma. A “Menina” já só serve para se emprestar a um caçador cliente, que tenha perdido a sua durante a viajem, passando por diferentes aeroportos.
Haveria bastantes profissionais e não só, que se interrogariam do porquê eu não comentar sobre as caçadeiras como armas de defesa para gatos.
Sabendo que cada uma das nove pilecas do cartucho mais apropriado para tais ocasiões, tem menos energia que uma bala de calibre 22 LR, prefiro não ser eu a recomendar o uso de caçadeiras como defesa para cargas de leão.
Recomendaria a quem a quer usar, por ter assim uma arma mais ligeira e manejável que as pesadas “Makombe” com difícil controlo da inércia, que as carreguem com cartucho de bala e não o tão usado cartucho de nove pilecas (SSG).
Finalmente, suponho que ter várias armas de defesa e usá-las todas no verdadeiro sentido de usar, é abrir uma porta a não atirar bem com nenhuma.