CAÇA E CONSERVAÇÃO (II)
Em notas prévias, chamei à atenção de como certos grupos de gente que se intitulam amigos dos animais, comportam-se em relação aos caçadores, ou outro qualquer grupo de gente que se encontrava antes deles nas áreas que eles dizem querer conservar. Esta gente tenta convencer-nos que são sumos da conservação e podem por isso decidir a sós como continuar a preservar a fauna e como eu já disse noutro capítulo, o que querem é o negócio todo e são tantos que não cabem nos Parques, que não são poucos.Como também já disse, geralmente a primeira medida da sua consevação é irradicar a caça legal, que de facto foi através dela que se conservou até hoje, usando seus lobis e até corrupção para tal conseguirem.Está na altura de lhes dizer bem alto, que ainda não nos convenceram e porquê. Descontraídamente mostram-nos imagens e videos dos seus safaris fotográficos como exemplos de bons amigos dos animais, que por sinal, várias vezes me espantam como caçador, do mal que lhes fazem e não bem.Talvez obsecados pelos milhões de dollars que através da caça, África num todo genera, não desistem de tentar fingir, que o podem também fazer através dos seus eco/fotográficos safaris, sem considerarem os meios para tal fim. Como os seus safaris são, pelo menos, dez vezes mais baratos que os de caça, têm de encher as areas de carros carregados de gente e está na altura de lhes perguntar “ Quantos carros juntos são muitos para verem o que seja num Parque Nacional? “
A nós caçadores, o Departamento de Caça não nos deixa ter mais de dois caçadores a caçar ao mesmo tempo e isso, só se os caçadores forem amigos ou familiares. Será que o Departamento nunca viu na net, ou mesmo no terreno, vinte carros à volta de uma lagoa onde os animais vão beber, ou predadores caçarem ? Chitas que sobem aos seus carros para poderem localizar a caça, Leopardos que se aproveitam dos carros para se aproximarem das suas presas, assim como Leões, Hienas, ou qualquer outro predador que precisa do espaço, que todos esses carros do eco/fotográfico safaris lhes tira.
Mas não é só o espaço que esta gente tira aos animais, pois com os colares de rastreio que colocam em vários deles, especialmente nos predadores, tiram-lhes também a privacidade, que os animais selvagens tanto necessitam. Se não for só para manterem rigorosamente esses predadores nas áreas onde eles exploram os seus negócios e poderem, com o uso de tais métodos, mostrá-los aos seus clients sempre e quando queiram, não sei para que mais servem.
Bem, pode ser também para continuarem com um programa falhado da criação dum tal “Super Parque” anunciado há mais de quinze anos atrás por um grupo dessa gente, na África do Sul e que nessa altura não seguiu adiante por motives mais politicos que otra coisa qualquer. Um parque que se estenderia desde a África do Sul à Uganda, usando os parques e reservas de caça já existentes e claro, criando corredores entre eles e que para isso os seus animalitos com colares lhes ajudarão a identificar. Se nesses corredores estiver alguém a exercer os seus negócios, serão desapropriados, nem que para isso, essa gente tenha de recorrer à corrupção de quem quer que seja, como no meu caso, onde o Departamento da Caça violou todas as regras do nosso contracto, para entregar a minha area de caça a um tal “African Parks”, que veio, viu e adquiriu todas as áreas que quis, sem se submeter aos leilões que o Governo exije para tudo no País. Nessa altura(2004) não faltaram reclamações publicadas quase diàriamente nos jornais, que para nada serviram. Apoderavam-se de dois parques de dez mil kilometros quadrados cada um, por 25 anos. (Sioma/Ngwezi Nat. Park e Liuwa Nat. Park). Depois desta façanha, já conseguiram outros três parques aqui na Zambia e também sem se submeterem a leilões, o que me parece uma especialidade desse grupo que se intitula comservacionista.(Os Parques de Kafue e os dois “ Wetland Nat. Parks de Lochinvar e Bangweulo), ambos com espécies endémicas deste País, (Kafue Lechwe e o Black Lechwe). Porquê a minha area ?
Quando da sua entrada e da forma que o fizeram, eu previ, que do que mais lhes enteressava era o grande número que havia de Chitas, Mabecos e até Tsessebi, espécies consideradas joias na África do Sul, pois esse País já tinha lançado um SOS ao Mundo, convidando a quem se enteressasse trocar alguns desses dois predadores por outros da mesma espécie que eles tinham, para os furtalecer, através de mistura de sangue, pois os da África do Sul vivendo exclusivamente em áreas com vedações electrificadas, vão-se tornando uma só família e por isso, mais vulneràveis a certas doenças que os podem dezimar a todos. Coincidência ou não, depois de algum tempo passado à chegada do AP, o Ministro do Turismo da Zambia numa entrevista dada à TV do País, anunciava algo estranho que tinha feito os Mabecos migrarem do Liuwa National Park, onde existem 65 mil Gnus e 40/45 mil Zebras, possivelmente para a Namibia. Para mim é impensàvel esses Mabecos migrarem duma área onde existe toda essa fauna para uma área semi desértica da Namibia, que se encontra a mais de 300km, donde eles sempre viveram. Alguns dos guardas de caça governamentais que lá ficaram após a minha saída, informaram-me que o AP estava envolvido numa operação de coletar sémen de várias Chitas, maneira como poderiam misturar sangue ou DNA, como o quiserem chamar, sem terem de fazer o Ministro voltar à TV para nos anunciar, que também as Chitas migraram por razões desconhecidas. Quero acrescentar aqui, que antes de eu sair definitivamente da área de caça, que circundava totalmente o Parque de Liuwa, testemunhei um pare de vêzes helicópteros ao service do AP, trazerem cadernos escolares a um pare de escolas locais. Ninguém é tão bom samaritano, para enviar helicópteros doutro País, com cadernos que custavam na Zambia 20 ou 30 cêntimos cada e muito menos para o fazer, entrarem sem autorização da Aviação Civil do País. Como desde a sua chegada eu me pus com um pé atrás, considerando a maneira como entraram quer no País, ou na minha área, ninguém me consegue convencer que eles não exportaram ilegalmente algumas dessas Chitas nos vôos de regresso desses helicópteros. Talvez fémeas, pois dos machos coletaram o sémen. Os colares de rastreio que colocaram em alguns deles, foi um bom alibi para justificar a captura. Não vou descrever tudo sobre a sua arrogância, pois tornaria maçador essas minhas notas, mas só acrescentar, que para cúmulo mataram um dos meus rastreadores (pisteiros como os denominamos na caça),aparentemente por ter sido um notàvel furtivo antes de trabalhar para mim, completamente desarmado, no meio do seu aldeamento e na presença da sua família. Bom, em tribunal alegando que tinha sido em resposta à agressão por parte do meu homem, que tinha levado um tiro nas costas, que lhe destruíu um rim e falecia umas horas depois, durante o translado da aldeia à pequena cidade de Kalabo,.... e ganharam o caso, imaginem!! Junto a estas minhas notas, um pare de artigos dos jornais da altura, para justificar eu estar convicto, que ninguém chega a um País como o AP o fez, venha para conserver a Fauna.... e conservar o quê ??... 65 mil Gnus, 40 mil Zebras, 60 mil Lechwes de Kafue e 65 mil Lechwes Negros.
Brota vida por todos lados, onde êles chegam para Conservar
Kafue Lechwe- Kafue Wetland
Black Lechwe- Bangweulu Wetland
Sei que depois destes 4 parques da Zambia, o AP já adquiriram outros parques em Angola (Parque do Lona), Moçambique, Malawi, Sudão Norte (no Mar Vermelho) e Sudão Sul (Boma e Badingilo) e postaram um artigo na net, que nos contam terem planos para administrar até 30 parques até 2030.
Imagino quantos scouts (soldados) vão precisar para controlar todos esses parques, que eles mesmo dizem ser um 30% da área da Terra reservada aos animais. Que monstruosidade!! Até onde chega a pobreza dos governos deste rico Continente!? Recentemente adquiriram os dois parques no Sudão Sul, como já disse e onde dito por eles mesmo, encontraram a maior migração de mamais do Mundo, estimada em seis milhões de animais.
Disso quero falar em seguida. Sudão é na minha humilde opinião, o maior paraíso de caça de África, quer pela sua bio deversidade, que comporta mais de sete dezenas de species de animais de caça maior, ou sua quantidade. Quando falo do Sudão refiro-me ao que hoje chamam de Norte e Sul, pois foi como o conheci e vivi um terço da minha vida como caçador-guia professional. Sinto um carinho especial por esse País e não é só pela sua Fauna, mas também a sua Gente e a Terra. Estou na Zambia há trinta e seis anos e aqui os meus colegas já estão fartos de me ouvir falar do Sudão e este pequeno artigo do AP confirma tudo que penso e digo desse País, incluíndo as minhas convicções sobre a conservação da Fauna em geral, feita pelas comunidades locais das áreas onde encontramos a caça.
Repito que, a conservação é um dever de todos e não dos intitulados conservacionistas e esse artigo do AP confirma assim ser. Como eles dizem e eu concordo, o Sudão tem sofrido várias guerras, às que eu prefiro chamar escaramussas, entre as tribos que inhabitam o País, sendo umas vêzes mais intensas que outras, contudo suficientemente graves para inviabilizar qualquer tipo de programa, quer seja de ajudas externas, desenvolvimento e claro também de conservação da Fauna, contudo se o AP diz que testemunhou uma migração de seis milhões de animais, eu digo que aquela gente é um grande exemplo para o resto do Mundo e confirmam tudo que penso sobre a Conservação.
ÊLES SÃO CAÇADORES e Ganadeiros
O futuro dirá se me equivoquei quando disse que esses conservacionistas tentam quase sempre sacar da área que dizem querer conservar, quem a conservou antes deles chegarem. Para o fazerem no Sudão que conheci, necessitariam dum exército de verdade. O eco/safari fotográfico vai sem nenhum control e há que o fazer, pois de conservação dos animais e seus habitates, tem muito pouco ou nada. -Apelo aqui para uma redução drástica do número de viaturas autorizadas a estar presentes no terreno, - ... e deixarem de colocar aparatos de rastreio nos animais selvagens. E já que menciono todos estes Parques cheios de bio deversidade da Fauna e a sua extraordinária quantidade de animais, sugiro como um dos mais recomendados métodos de os conservar, CAÇANDO.